terça-feira, 25 de novembro de 2008

A GRANDE MENTIRA

A sociedade tem-nos habituado a viver na mentira. A cada momento do dia poderemos encontrar nas notícias, nas ruas, nas empresas, nas pessoas e noutros agentes demasiados exemplos de mentiras.

Deixando de fora desta linhas as questões relacionadas com as pessoas em geral e focando-nos mais nas empresas e na sua actividade económica, poderemos fazer um rápido exercício para avaliar de forma muito empírica a dimensão da “mentira” em que vivemos.

Olhemos para cima, para o Estado e seus dignos representantes.

Diz-se que o Estado vai disponibilizar ajuda às empresas, ajuda essa que pelos anúncios feitos já vai em vários biliões de euros prometidos. Primeiro, era, e ainda é, a disponibilização de verbas para os projectos de investimento ao abrigo do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional.
Mais tarde, outras verbas foram prometidas por via de medidas directas geridas pelas entidades bancárias. Falando como falo todos os dias com empresários que têm projectos aprovados ao abrigo de uma qualquer medida de apoio em vigor, tenho constatado que nenhum ainda recebeu um único cêntimo, apesar dos pedidos já apresentados e dos investimentos já executados e em posição de reembolso.
Se falarmos do POPH – Programa Operacional Potencial Humano a situação repete-se. Os mais variados projectos, por via das empresas que executam formação interna ou mesmo de entidades de formação que funcionam como promotoras de formação para o público em geral, estão todos à espera do primeiro euro.

Efectivamente, e até meados de Novembro, das várias dezenas de projectos que tenho conhecimento que se encontram em execução, alguns desde Abril, ninguém ainda viu a “cor ao dinheiro”. A falácia é esta mesma. Vivemos da promessa de que iremos ter um dia o dinheiro prometido.

Eu pessoalmente preferia colocar a questão de outra forma. Porque se promete ainda a comparticipação ao investimento? Porque não se atribui antes benesses fiscais em vez de comparticipações, que tarde chegam? Porque se enganam as empresas, e as pessoas?

O país necessita urgentemente de investimento. Não é necessário repeti-lo. Para o efeito, o Estado acredita que prometendo ajuda às empresas, e aos empresários, estas e estes irão investir mais. Grande a mentira em que se acredita que se venha a tornar verdade.

Novamente assalta-nos mais uma questão: porque não se preocupa o Estado e todos os seus subsidiários em pagar às empresas em tempo útil, menos de trinta dias por exemplo, de forma a que as empresas tenham menos dificuldades financeiras e assim se crie um ambiente de confiança ao investimento? Mais uma vez, temos a promessa de que tal irá acontecer em breve, restando-nos ver até onde irão ser cumpridas. Ou será esta promessa mais uma mentira?!

Sempre foi assim, poderão alguns dizer com apropriada razão. Os reembolsos do Estado aos projectos desenvolvidos na área do investimento directo ou da formação são sempre feitos com meses, quando não, anos de atraso. E quando estão para ser feitos, as entidades estatais gestoras das medidas de apoio tentam encontrar álibis, muitas vezes demasiado esfarrapados e artificiais, para evitar entregar as verbas prometidas.
Truques que, se fossem utilizados pelas empresas num ambiente normal de mercado, seriam intitulados de desculpas de “mau pagador”. Tenta-se encontrar uma razão para não pagar, para anular contratos, para cancelar apoios, para reduzir elegibilidades, etc. etc..

Mas à parte da mentira que se cria à volta das promessas, que por vezes assumem o aspecto de que não existe a menor intenção de se virem a cumprir, a maior mentira é aquela em que os empresários vão acreditando: de que o Estado deve, e pode, ajudar!

As empresas, e os empresários, têm de deixar de acreditar em tal falácia. O Estado tem cada vez mais o papel de retirar e não o de dar. Infelizmente parece ser este o caso. A carga fiscal é cada vez maior e o retorno que o cidadão recebe de volta é cada vez menor.
As empresas estão no fim da lista das prioridades do Estado, por mais que nos venham dizer o contrário e nos apresentem dados estatísticos a tentar prová-lo. Mal amada anda a ciência.

As empresas, e os empresários, apenas podem acreditar na sua capacidade para criar valor e desenvolver a economia pela via da criação de trabalho e da distribuição de riqueza, na esperança que essa acção se reflicta positivamente por via do consumo do mercado. O Estado, estando presente, é para retirar impostos e criar dificuldades à actividade. Parece ser esse o paradigma prevalecente.

Se algum conselho poderei deixar às empresas e aos empresários é o de que não acreditem no Estado, acreditem antes em vós. E façam por merecer tal auto-confiança.

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