Ontem, o Presidente da Republica Checa, durante a visita do nosso Presidente da República aquele país, fora do que seria o normal protocolo nestas situações, fez uma clara crítica ao defit português.
Este comentário, directo e objectivo, pode ser interpretado de várias formas, entre elas a de que os países mais pequenos da Europa Comunitária não estão para pagar a crise dos outros, especialmente daqueles que não se sabem governar.
A Republica Checa está fora da zona Euro, pelo que não sofreu com a impossibilidade de alterar a sua taxa de câmbio como nós.
Mas o problema não está apenas na taxa de câmbio que nós não temos por pertencer à moeda única.
O problema está na despesa pública, na falta de produtividade da nossa economia por força de existência de uma grande percentagem de postos de trabalho que não acrescentam valor à economia, mais especificamente administração central e função pública, no continuado endividamento do país para comprar tudo o que necessita no exterior, desde a energia até à alimentação, nos hábitos consumistas de uma população que não cria valor suficiente para tal, e na falta de recursos, não os naturais porque disso não temos culpa mas dos humanos porque não temos um sistema de ensino e de formação profissional que crie competências técnicas e atitude para com o trabalho e a criação de riqueza.
Este comentário do Presidente Checo vem de encontro a um artigo de Simon Johnson, numa análise realizada para o jornal norte-americano 'New York Times', intitulada "O próximo problema global: Portugal", em que o economista anuncia Portugal como muito próximo da bancarrota, devido à incapacidade dos nossos governantes em perceber a verdadeira dimensão do problema e em atacar o problema da forma correcta – cortar forte e feio na despesa do Estado.
O nosso país tem menos de 50% de população activa, sendo que desempregados, reformados, jovens e outros sem emprego já são a maioria. Dos que trabalham, apenas cerca de 70% acrescentam valor, sendo os restantes funcionários públicos ou similares, não acrescentando directa ou indirectamente qualquer valor à economia.
Isto quer dizer que não ganhamos para o que consumimos. Daí a necessidade de nos termos vindo a endividar nas últimas duas décadas de forma avassaladora para satisfazer as necessidades de consumo de uma população inteira.
Todos sabemos que este esquema não é nem nunca poderá ser sustentável a longo prazo, pela simples razão de que um dia o crédito acaba-se. Acontece isso às famílias, também pode acontecer aos países.
O mais preocupante é que apesar de todos estes sinais de alarme, internos e externos, continuamos com as mesmas políticas.
Assim, o nosso futuro só pode correr mal.
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