sexta-feira, 17 de abril de 2009

HUMANISMO OU NOVO-HUMANISMO?

Uma das minhas viagens internacionais que mais me impressionou foi à India, a Kolkata.

Sendo eu um "Novo Humanista" (querendo isto dizer que o homem é responsável pelo próprio homem e pelo mundo, e não ele, homem, o centro do mundo), não sendo de esquerda nem de direita (politicamente falando) mas antes tendo ideias próprias (não costumo adoptar ideias de outros sem primeiro as criar como minhas) e vendo as imensas diferenças sociais que existem nesse grande mundo que é a India, disse para comigo que esse não seria o meu mundo ideal (como se tal pudesse existir, eu sei, mas gosto sempre de pensar nesses termos, os do ideal).

Eu percebo, compreendo, entendo, tenho de aceitar (quem sou eu para não aceitar) tudo o que a sociedade indiana tem para nos dar e mostrar, que são enormes lições, soubessemos nós interpretá-las e aprendê-las.Percebo, compreendo, entendo e aceito que existirão na India muitas pessoas que apenas não se querem preocupar, ambicionar, desejar ter mais do que apenas o suficiente para comer "agora". O clima ajuda a que não se preocupem muito com bens existênciais para além da comida. O clima também não convida ao esforço. Estivessem na Filandia,e as mesmas pessoas teriam de altrerar as suas opções.

Mas também vi gente que trabalha, arduamente, que ganha muito dinheiro e depois vai para as discotecas caras e de elites beber e "divertirem-se" como se não houvesse amanhã, tentando ser felizes por via daquilo que nós ocidentais fazemos com a mesma esperança (sex, drugs and rock n` roll).Aqui, duvido que estes últimos consigam ser mais felizes dos que os primeiros, mas isso seria tema para muita discussão e nenhuma conclusão, pois a respostas farão sempre parte das opções individuais de cada um de nós).

E mais não teria a acrescentar, nem sobre a sociedade Indiana nem de qualquer outro país ou região no mundo, não acontecesse uma coisa que, no meu entender, não entendo como "humanista": o abuso ou o tirar partido do nosso semelhante em nosso proveito próprio, sem que consideremos que do outro lado também está um ser humano (esta questão já se coloca relativamente aos animais).

Naturalmente que eliminar este factor será impossível, por mais que tentemos criar um mundo perfeito. O que são os imigrantes em todo o mundo? o que são os ileterados em todo o mundo? o que são os miseráveis em todo o mundo? (não, isto não se passa apenas na India). São escravos, que trocam o seu corpo, o seu tempo, a sua liberdade (fisica, espiritual, intelectual) por um naco de pão ou uma tijela de sopa.

Alguns não quererão mais do que isso: uma tijela de sopa e um naco de pão.Mas, parece-me que a esmagadora maioria dos escravos, de hoje e de sempre, não o são por vontade própria mas por falta de oportunidade de serem eles os escravizadores (sim,também existe essa opção na condição humana). Contudo, se não existisse a hipótese de se ser escravizador, não existiriam escravos, e vice versa.Esse seria o mundo ideal. Utópico, naturalmente. Mas como não consigo mudar o mundo, pelo menos deixem-me pensar idilicamente no mundo que eu gostaria que existisse.

Se, entretanto, conseguir alertar potenciais escravos para os perigos que correm, já não é mau. Mas aceito quem não veja as coisas nesta perspectiva, por ventura, redundante e tacanha, ou idílica e utópica. Faz parte da nossa liberdade de pensamento (pelo menos que nos fique essa).

In: Resposta a uma discussão num fórum do The Star Tracker.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

IN SOMEONE’S DREAMS!

O rigor exigido nos dias de hoje a indivíduos e empresas levaria-nos ao pressuposto de que também a administração pública teria progressivamente um comportamento consentâneo com o mesmo princípio.
A realidade diz-nos que não é assim que acontece.
Vamos falar de apenas um assunto: a formação profissional comparticipada.
Actualmente o POPH estabelece que para se aprovar um dado projecto o mesmo tem de cumprir com um conjunto de requisitos, tendo-se inclusivamente criado matrizes de avaliação para o efeito que retiram grande parte da subjectividade ao processo de avaliação e decisão, da mesma forma que permite a quem se propõe candidatar com um dado projecto poder antecipar o resultado que poderá vir a obter.
Existem inúmeros exemplos da forma como as regras são interpretadas da maneira como cada um quer, pelo que apenas darei um deles específico. Duas empresas, da mesma área de actividade (cerâmica fina), distanciadas três quilómetros uma da outra, uma com mais de cem empregados e a outra com mais de cinquenta, com planos muito idênticos devido à actividade específica e também ao segmento da população que trabalha na actividade (algumas pessoas terão mesmo transitado de uma empresa para a outra, num qualquer dos sentidos), em que a maioria dos trabalhadores não tem o 9º ano de escolaridade.
Assim, e exactamente com base nos mesmos pressupostos, ambos os planos de formação contemplam a ligação a um mesmo CNO, ambas protocoladas e devidamente documentadas, para futura qualificação dos trabalhadores com base na aprendizagem e nos curricula formativos, muito iguais em tudo.
No que diz respeito exactamente ao critério de pontuação para a “qualificação por CNO”, que tem três níveis possíveis (zero, cinco e dez) uma empresa obteve a pontuação máxima e a outra a intermédia.
Compreende-se que existam outros factores de avaliação, como a alteração de processos que possam levar a necessidades de formação, que tenham pela sua natureza uma avaliação muito mais subjectiva e que situações mesmo semelhantes tenham avaliações diferentes por força de interpretação ou mesmo de justificação diferenciadas.
Mas, neste critério, em que se tem já um protocolo com um CNO para futura qualificação dos participantes na formação ou não, não me parece que possa existir subjectividade.
Olhando para as duas empresas, uma com cerca de cinquenta e outra com cerca de cem trabalhadores, poderíamos tentar adivinhar que a maior teria sido a penalizada com uma pontuação inferior, mas não, foi precisamente o contrário. Mais estranho quando a percentagem relativa de trabalhadores a propor ao CNO é maior na empresa mais pequena.
A falta de rigor na avaliação dos projectos candidatos ao POPH (para não falar nos projectos de investimento candidatos ao QREN) poderá ser interpretada de outra forma: a avaliação e consequentes pontuações não servem de mais nada senão para justificar o que se pretende justificar, abrindo-se assim a possibilidade à manipulação dos resultados.
Num recente concurso para formação-acção em que concorreram umas dezenas de candidatos, foi aprovada uma entidade que nunca tinha feito nenhum projecto de formação-acção e que a sua experiência em formação era reduzidíssima, quando foram reprovados candidatos com duas dezenas de anos de experiência e dezenas de milhar de horas de formação ministradas. Noutro concurso do mesmo género, mas por outra entidade intermédia, antes dos resultados do concurso já se sabiam quais eram as nove entidades que iriam ser aprovadas. Uma delas nem era nem é entidade acreditada para a formação. Contudo, foram eliminadas entidades com competências e experiência muito acima de quase todas as que saíram vencedoras do mesmo concurso.

O mercado está cheio destes exemplos. Andam a tentar-nos tapar o sol com uma peneira. Da mesma forma que nos tentam dizer que quando todos tivermos um certificado de qualificação do 9º ou 12º de escolaridade obtido pelo processo administrativo criado para o efeito então seremos muito mais cultos e competentes.
Só se for “in someone’s dreams!”