terça-feira, 17 de abril de 2012

Empreendedorismo? Mas como?

A crise que atravessamos actualmente em Portugal, não se limita a ser apenas económica e financeira, mas ultrapassa já os âmbitos sociais, culturais e educacionais.

Apontado como uma possível solução para parte do flagelo social que é o desemprego, e até com potencial para diminuir os efeitos negativos no campo económico que se fazem actualmente sentir, o “empreendedorismo” surge nos discursos de políticos, académicos, agentes associativos e sindicais, fazedores de opinião e comentadores como uma das soluções.

Mas surge sempre descontextualizado. Por várias razões, o empreendedorismo é colocado de forma autónoma como uma solução, ignorando as causas que estão por detrás de tão pouco empreendedorismo nacional. Entre as muitas que existem, que não tentarei enumerar até à exaustão, apontarei as seguintes razões que nos levam a ser tão pouco empreendedores.

O sistema de ensino, em toda a sua extensão, não cria em nós a vontade de empreender, criar, inventar, sermos autónomo, livre para traçar o nosso próprio destino pessoal e profissional. Antes, incute nos jovens a vontade na dependência do Estado ou noutros, o acreditar que temos direitos, sem deveres, que a vida é fácil, começando pela não existência de uma avaliação objectiva e real das competências e mérito de cada um. Da mesma forma, não ensina os jovens a planear, controlar, a agir, a tomar decisões, em suma, a serem gestores.

O contexto que se apresenta aos potenciais empreendedores é por si desmotivador de qualquer acção empreendedora. A burocracia do Estado, o acesso à informação, à justiça, ao licenciamento, ao financiamento, bem como os custos com energia, e o código laboral, leva qualquer individuo com pretensões a ser empreendedor a não se aventurar em tal empreitada.

A falta de capacidade financeira de quem por ventura tenha ideias passíveis de se tornarem em negócios de sucesso, bem como o difícil, senão impossível, acesso ao financiamento, tradicional ou mais inovador, impossibilita o avanço da maioria dos potenciais empreendedores que possam existir.

Finalmente, de entre as mais importantes causas do não-empreendedorismo, surge aquela que mais indivíduos retira do caminho de uma vida profissional como empreendedor ou empresário: a ditadura fiscal. Devido às actuais leis, que transferem para os gerentes e administradores das empresas toda a responsabilidade fiscal, mesmo que comprovadamente não exista culpa que possa ser atribuída, leva a que qualquer pacato cidadão, com a mais criativa e genial ideia de produto ou negócio, deixe de entrar no mundo empresarial.

Com estas condições, não é de admirar que não haja empreendedores em Portugal. Há funcionários públicos e empregados.

Mas, assim quem é que vai criar valor para sustentar a economia?

Aparentemente, muito poucos ou mesmo ninguém.