segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PRODUTIVIDADE – uma medida.

A questão da produtividade continua a ser recorrente num contexto de crise económica e financeira que penaliza a economia dos países menos competitivos. Convém, assim, perceber este fenómeno.

Em termos micro, ou seja ao nível das empresas, a produtividade, de acordo com diferentes autores, é medida de várias formas, como pelas equações: “proveitos” sobre “custos”; “volume de vendas” sobre “número de RH” e “valor acrescentado bruto” (VAB) sobre “número de RH”, entre outras.

A primeira dá-nos a relação directa entre outputs e inputs, ou seja, o rácio de “valor” criado ou acrescentado por unidade monetária, gerado pela actividade produtiva, a segunda equação dá-nos o volume de vendas per capita e a terceira o valor acrescentado per capita.

Todos estes rácios são afectados por factores como:

- sistema organizacional e de gestão, nomeadamente na definição dos processos produtivos e de suporte da cadeia de valor da organização;

- competências humanas, relacionadas com os conhecimentos e experiência que cada trabalhador detém relacionados com as suas tarefas e funções, tanto nas actividade produtivas como de suporte da cadeia de valor;

- capacidade de produção dos equipamentos, especialmente nas áreas produtiva e da logística em que a tecnologia desempenha especial papel;

- capacidade de análise e transmissão da informação, nomeadamente na componentes hard e soft dos sistemas TIC ;

- rendimento das matérias primas, principalmente a qualidade das mesmas e a sua adequação ao propósito;

- externalidade, nomeadamente as leis laborais e outras bem como o contexto socioeconómico, que afectam o rendimento dos recursos utilizados, sejam eles humanos ou materiais.

Em termos macro, ou seja ao nível do país, a produtividade costuma ser medida de várias formas, conforme os autores: “produto interno bruto” sobre “população total” ou “população activa” e “valor acrescentado total” sobre “população total” ou “população activa”, entre outras.

A primeira formula dá-nos o rácio de valor acrescentado per capita total ou activo e o segundo o valor produzido per capita total ou activo.

Estes rácios são afectados por factores como:

- produto interno bruto, medido pelo total da produção de valor que o país atinge, que depende da capacidade produtiva e de criação de valor do tecido empresarial privado e público;

- valor acrescentado total, ou seja a capacidade da economia em criar ou acrescentar valor, nomeadamente pelo tecido empresarial privado e público;

- total da população existente, sendo que toda a população é considerada para efeito da determinação do rácio, independentemente da sua condição produtiva;

- total da população activa existente, em que apenas a população activa ou em condições de actividade, entenda-se desempregados em idade activa, são considerados para efeitos do rácio, sendo que desta população activa consta toda aquela que desenvolve actividade, seja ela considerada ou não como criadora de valor;

Como podemos facilmente depreender, a economia de um país depende do tecido empresarial, público e privado, expresso na sua capacidade de criar e acrescentar valor, e da governação do mesmo país no desenvolvimento de politicas que diminuam os efeitos negativos das externalidades (ambiente externo às empresa que é o mesmo que o ambiente interno do país), do peso da máquina do Estado bem como da sua capacidade na criação de politicas a acções externas, comerciais e outras, que facilitem o desenvolvimento da economia interna.

Com base nestes princípios, não será difícil, tanto a nível micro como macro, desenvolver as políticas mais adequadas e os necessários planos de acção para que a produtividade, micro e macro, possa subir.

Então, porque continuamos a ser um dos piores países da Europa no que se refere a produtividade?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

OS NOVOS ROMANOS

Passei por Roma num destes dias. Roma, sob o aspecto humano, continua como há 2000 mil anos.

A diferença está só nos adereços. As pessoas podem ser outras, mas continuam a ser Romanos. Os novos Senadores, Centuriões e outros proeminentes elementos do Estado estão bem presentes em qualquer sítio. Os Artífices são hoje homens de negócio, donos de empresas ou gestores de topo. Os escravos são os trabalhadores nas fábricas, nos quiosques, nos restaurantes e cafés e nos escritórios. Até o gladiador está bem presente no desporto e nas actividades afins. Roma continua viva!

Não fosse a electricidade e as vestes de hoje, e estaríamos a viver dois mil anos atrás. É impressionante como estas figuras estão tão presentes para o observador atento que se senta na esplanada do café ou na sala de um restaurante, enquanto degusta um “expresso curto” ou uma “pizza margaritta”.

Os actores são outros. O cenário é mais moderno. Os sistema está ajustado. Mas o enredo é o mesmo! Pouco mudou!

Se encontrasse César num parada de rua, na sua quadrilha dourada e escoltado pela centúria não ficaria nada surpreendido. Dois mil anos não chegaram para fazer um “homem novo”.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SANTOS DA CASA NÃO FAZEM MILAGRES

Um dos artigos publicados neste  blog, (Visão Mortífera, Maio 2009) foi retirado de um “paper” que foi enviado na sua forma completa em simultâneo para duas conferências internacionais, uma a acontecer em Portugal (Gaia) e outra na Austrália (Melbourne), ambas ainda este ano.

Não fazendo eu parte da “academia”, enviar comunicações para conferências internacionais  que são organizadas por universidades é um desafio arrojado, que tem à partida o “não” como quase certo.

A comunicação, como se poderá ver pelo artigo deste blog, não segue exactamente o modelo da academia. Nem foi essa a minha preocupação.

Pretendi apresentar na comunicação que existe uma potencial relação entre a evolução tecnológica e o “valor” criado pela actividade humana e as consequências que as diferentes possíveis combinações resultantes dessa relação podem significar para a sociedade e a economia mundial.

Não estando muito preocupado com a forma, preocupei-me mais com o conteúdo, até porque é esse que poderá interferir nas nossas vidas.

O mesmo “paper” foi enviado exactamente igual para ambas as conferências, na expectativa de que se fosse aprovada para uma das conferências teria de prescindir da outra por questões de direitos de publicação, mas acabei por não necessitar de ter de utilizar este expediente.

Dos júris de ambas as conferências recebi comentários sobre a forma, o que para mim não foi surpresa, na medida em que sabia claramente que tendo preferido adaptar o conteúdo da comunicação ao limite de páginas de texto aceites em vez de utilizar o mesmo espaço para seguir as regras respeitantes à produção de comunicações, os comentários seriam mais do que esperados.

Assim, com base nessa avaliação, o júri da conferência em Portugal acabou por não aceitar a minha comunicação. Quanto ao conteúdo nada disse nem referiu.

Contudo, o júri da conferência na Austrália, mesmo considerando que a “forma” não estando correcta poderia ser corrigida, com base no conteúdo, aceitou a comunicação para ser apresentada na dita conferência, com o seguinte comentários: This is because the questions raised in this paper have far reaching implications for a variety of disciplines, and it takes a lot of courage to attempt what you have done.”

Assim, irei apresentar a referida comunicação na Austrália em vez de o fazer no meu país.

E mais comentários não faço.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A LIBERDADE DE IMPRENSA NA TVI.

Num outro forum, alguém perguntou:

“Será que alguém se importa com a saída da Manuela Moura Guedes? E fará falta ao panorama informativo nacional?”

Como telespectador vejo as notícias da SIC notícias e CNN (pouco mais). Outros programas que possa ocasionalmente ver serão alguns específicos da RTP2 e dos canais temático da TVCABO (que agora se chama ZON, não é?)

Por este perfil, poder-se-á ver que não sou adepto da TVI, nem no tempo do BigBrother nem do Marcelo, que continuo a não ver na RTP1, nem de outros "astros" do universo mediático que passam pelas televisões (nem via o Santana contra o Sócrates na RTP1, por achar que eram demasiado ocos e facciosos nas suas visões e comentários).

Depois, já tenho idade e experiência de vida suficientes para estar muito acima da mediocridade da política portuguesa (desculpe-se a minha potencial arrogância) pelo que sou perfeitamente livre para ver o que se faz e se diz e qual o seu significado e quais as patranhas que se engendram por detrás de falinhas mansas e da hipocrisia intolerável que caracteriza o nosso panorama político. Sem necessidade de me justificar, ainda digo que expresso as minhas opiniões sobre qualquer dirigente político (como já o fiz directamente à Manuela Ferreira Leite em devido forum, o farei a Sócrates se tiver essa oportunidade ou a outro qualquer). Finalmente, nem costumo votar se não encontrar afinidade com algum programa político. Dito isto, aqui vai:

A forma de fazer jornalismo da Manuela Moura Guedes é efectivamente pouco "comestível". A sua saída não deixará pena, pelo menos a mim. Haverá outros que poderiam aproveitar a ocasião e ir também embora.

A Manuela é uma "jovem" das minhas idades e o que mais lamento é que a doce recordação de uma canção que a celebrizou há cerca de trinta anos seja deixada para segundo plano porque o que iremos lembrar é uma MMG transformada sob muitos aspectos. Lá se foi a doce imagem da juventude.

Mas o que a Manuela fez, na sua luta contra Sócrates, fará falta?

aí temos outra questão, que não foi colocada inicialmente, mas que eu me atrevo a fazer agora.

Aqui tenho as minhas dúvidas se não corremos o risco de perdermos uma voz, nem sempre certa e da forma correcta, que aproveitava o facto de haver "liberdade" para se fazer notar e para trazer a público assuntos que podem ser do interesse da sociedade.

E aqui vem à baila a questão da "liberdade".

Sabemos que ultimamente têm vindo a terreiro várias denúncias de tentativa de interferência na liberdade de expressão e de decisão de algumas pessoas.

Alguns directores de informação (inquestionáveis na sua honestidade) foram pressionados para ignorar o caso da Universidade Independente e do diploma de Sócrates. Alguém se atreve a desmentir? parece que não!

Algumas empresas (os jornais fizeram eco de vários casos nos últimos dias) dizem que sofreram pressões políticas para se manterem dentro de uma certa linha ou perderiam oportunidades de negócio. Mentirosos? duvido!

Sabemos que a MMG andava numa guerra declarada contra Sócrates, depois do episódio deste a alcunhar de "jornalista travestida".

Sabemos que, independentemente dos culpados, existe muito para explicar sobre o Freeport, o projecto da Cova da Beira e diplomas de curso passados ao domingo, bem como das pressões políticas sobre a sociedade.

E agora, de forma perfeitamente independente, a quem convém mais a saída da MMG?

Claramente a Sócrates.

Acaba-se com uma voz discordante que iria fazer tudo para o deitar abaixo até às eleições e aproveita para culpar a oposição de que estão a fazer aproveitamento politico do facto, ao qual pretende ser alheio, e assim se tornar em vítima. Ficará visto como o pobre "coitado" (outro Zé Maria do BigBrother) que o nosso povo tanto gosta de defender.

O que ganha a oposição? Nada!

Primeiro perde MMG e o seu combate contra um inimigo comum.

Depois vê-se acusada de se estar a aproveitar do evento.

Terceiro, se refilar muito, porque também tem telhados de vidro (histórias do passado menos bem contadas), acabará por ser acusada de hipocrisia e de falsidade e desonestidade política.

Claro que nem todos conseguem ver desta forma (alguns não querem ver por várias razões, por beneficiarem do acontecimento ou por medo de o dizerem)

A mim já me mandaram ficar "calado..." duas vezes. nem por isso vou deixar de dizer o que penso. No dia que tiver de ficar calado, se ainda for a tempo, saio do país para sempre. Já não tenho idade para aturar mentiras.

Pensem por vós próprios, sem pressões, e decidam por vós. Quem viveu o 25 de Abril compreenderá o que quero dizer. Os outros terão de acreditar que só com suficiente liberdade intelectual e emocional conseguiremos compreender as "mentiras" que nos querem impingir a todo o momento.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Separar as águas

Tenho utilizado este blog para expor muitas das minhas opiniões sobre vários temas, com carácter político, económico e técnico.
Contudo, e com o objectivo de separar as águas, criei um novo blog, "É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!", em http://eaeconomiaestupido.blogspot.com , que tem como objectivo fazer a relação entre política e economia.
Dois temas já foram abordados:
 TGV vs AEROPORTO
 A  SEGURANÇA E A ECONOMIA

Neste blog continuarei a publicar artigos essencialmente técnicos dentro das minhas áreas de especialização e sobre assuntos da sociedade que possam merecer a atenção.

Fica o meu agradecimento para quem vai lendo as minhas palavras.
TF

domingo, 23 de agosto de 2009

Understanding strategy

Many managers have trouble understanding what is going wrong with their businesses at some stage in their life cycles.
The first issue is related to the understanding of life cycles. Any product or service, which reflects a given “solution” to a certain necessity or problem, has a clear life cycle. This “solution” life cycle is defined by the volume of the adoption along the time (Levitt, 1965) and, since it is introduced in the market place, it is characterized by the distribution of the same adoption along the time (Rogers, 1995).
Taking the Business Match model (Tesmer, 2002) as an example, and using the market matrix defined by “competitiveness and pressure on margins” and “complexity and uncertainty”, we will clear understand that now a days any new solution will evolve from Frontier, passing through Jungle and ending the life cycle in Battleground. It is almost impossible for a new product to do its life cycle through Kingdom instead of Jungle.
In the same manner, if we design a matrix based on two factors: demand and supply, we will find that any product or service (I like to call the combination of those as “solution”) will evolve around the four quadrants of that matrix in a very predictable faction. It will start its life cycle in low demand and low supply (at the same time that is stands in the Frontier quadrant in the Business Match model), will advance to high demand if the market accepts the solution (product plus service), which will attract new competitors on the supply side, increasing this factor (corresponding to the Jungle quadrant in the Business Match model), and as time goes by, the solution’s life cycle will drop to a lower demand level but still in high supply mode (corresponding to the commoditization process, which will take the solution to the Battleground quadrant in the Business Match model).
If we add to this another factor, the solution’s value for the consumer, we will find, as a rule of the thumb, that “premium” solutions will sell in niches, that is in markets with low supply and reduced demand, and that “commodity” solutions will sell in markets with high demand and enough supply to satisfy that. A “premium” solution will never sell in a mass manner. In the same line of though, a “commodity” solution will never sell in a niche, as it would be a real paradox to the concept of commodity: mass production and low price.
If we take as certain that when analyzing any product life cycle using some kind of model we may find some predictable path, than when we cross information from one model to the next, the life cycle stage must be equivalent.
I my work as researcher, I found that many managers do not see this as evident. Many consider that, on one hand, they are in a Jungle but, on the other hand, they have “premium” products. This is a real paradox that many managers try to solve with no success, as there is not such solution. A premium product has to have what the other have not. Normally, this novelty comes from innovation, supported by high quality and exclusivity. If one can produce such product, this means that the product will stand alone, at least for a while, in the market place, meaning no direct competition. But it also means low demand, as it happens with any other innovative product. Consumers do not jump in mass quantities to buy new products. Therefore, and following this line of thinking, a premium solution has to be position in a niche, at the Frontier of Kingdom quadrants, never at the Jungle position.
Mixing up all these positionings and creating conceptual paradoxes, does not help to come to the right strategy definition at all. The marketing approach that a premium product deserves is not compatible with the marketing approach that one has to provide to consumers in a Jungle market.
Only a perfect alignment of all factors can provide a comprehensive and effective strategic solution. Taking wrong premises will jeopardize any potential scenario. We cannot comprise our vision to a single box.

Manuel T. Fernandes, 2009.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A gripe "A", ou a falta dela....

Este meu comentário não pretende ser político, mas apenas de um cidadão responsável que não entende certos comportamentos que vêm dos dirigentes e da classe/elite que nos governa.

A Ministra da Saúde referiu ou quis dar a entender que existem pessoas a contaminarem outras com a gripe A de forma propositada.
Para ilustrar tal conclusão, própria de um ser intelctualmente superior, referiu que "uma mãe" disse que "ía contaminar propositadamente outras crianças porque também lhe tinham contaminado a sua".

Nós sabemos, ou devíamos saber que quem faz um comentário como este faz parte de uma classe de cidadãos (não me caiam em cima ainda só por estas palavras) que devido a uma educação menos avançada e a uma atitude menos compreensiva e urbana, dizem o que lhes vai na alma sem medirem as suas próprias palavras e o verdadeiro significado das mesmas, sendo que nunca serão capazes de pôr em prática as ameaças que fazem?
Claro que sabemos!
Até sabemos que nós próprios, muitas vezes sob a influência das circunstâncias, proferimos afirmações que em nada reflectem a nossa vontade e forma de ser e estar na vida.
É típico do povo Português proferir essas "ameaças" (blasfémias) que não passam de meras palavras, sem qualquer significado real que não seja o de demonstrar indignação ou revolta, mas que não constituem em si qualquer perigo para a sociedade, porque nunca serão levadas a cabo.

Mas, e vou aqui abrir um espaço de liberdade intelectual em que tudo pode ser possível, mesmo que existissem mães e pais revoltados por alguém ter deixado que os seus filhos fossem contaminados com a gripe A e estejam assim dispostos a contaminar os filhos de outrem de forma propositada, este argumento nunca poderá ser utilizado por um governante (não interessa a sua cor política) para se ilibar da sua responsabilidade e da sua competência ou falta dela para controlar um fluxo pandémico.

Dizer isto ao público, ao mesmo povo que diz coisas que não devia dizer (mas o povo sabe e aprende o que as elites lhe querem ensinar, não é?!) é descer ao nível de quem fez a afirmação em causa. Se temos governantes que dialogam ao nível da ameaça fútil, inexequível, desgarrada e sem consequências, então compreenderemos que o mesmo governante é também inconsequente nos seus actos.

Ao que havíamos de chegar!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O ESTADO CAPITALISTA

A crise financeira provocada pelo Sub-Prime, a consequente crise económica que se generalizou a nível global e os potenciais resultados de um mercado de derivados sobrecarregado de responsabilidades fazem com que os Estados estejam a assumir uma nova posição na economia e na sociedade.

A posição liberal dos Estados, pouco intervencionista e mais regulador, de acordo com os princípios capitalistas emanados do consenso de Washington, está a dissipar-se na sombra da desculpa de que uma posição mais Keynesiana é essencial para garantir a solidez e a confiança nos mercados financeiros, de capitais e na própria economia.

Os Estados estão a assumir a posse, gestão e controlo de sectores vitais à economia, num retrocesso daqueles que eram os princípios da liberalização e da globalização dos mercados e da economia, assumindo-se mais a favor de posições proteccionistas dos seus interesses e das economias internas e menos na defesa do paradigma de liberalização de uma economia global assente na liberdade de circulação de bens e pessoas.

Estamos a assistir ao surgimento de um novo paradigma. Depois do Estado socialista e democrático que surgiu como resposta às crises sociais e económicas dos séculos XIX e XX provocadas pelos Estados dominantes e totalitários, estamos a regressar à tomada do poder pelos Estados, mas agora sob a forma de capitalismo.

O Estado Capitalista, mais do que mero interveniente na regulação dos mercados na tentativa de supressão das suas falhas, assume-se como principal actor na gestão dos sectores vitais das suas economias internas e na defesa dos seus interesses no envolvimento que têm ou quer ter na economia global.

Vários estudos apontam para o cada vez maior domínio dos Estados em alguns sectores como o energético, o financeiro e o terceiro sector, o que demonstra o enorme apetite que os mesmos têm para controlar áreas da economia que possam trazer benefícios a quem os dirige e gere.

Naturalmente que esta ingerência naquilo que até há pouco tempo se defendia como pertença do sector privado é motivada pelos interesses políticos, ou de grupos políticos, que agem na defesa dos seus próprios interesses e sobrevivência.

Esta situação, assente na desculpa de que a crise tem de ser minimizada ou mesmo ultrapassada, apesar de pouco inovadora e nada inédita, está a trazer para a cena social, económica e de mercado um novo agente com uma nova determinação de obter resultados mas também com uma capacidade de decisão e poder de execução que podem ofuscar os outros agentes com interesses económicos. O Estado, assente na prerrogativa de que defende os interesses nacionais, pode assumir posições que nunca seriam aceites se assumidas por outros agentes, mesmo que multinacionais e grandes empresas locais. O Estado, com base no seu poder representativo e legislativo, pode tomar decisões em negócios locais e globais que mais interessem, supostamente, às suas populações.

Sabemos que um Estado que assume tal tipo de comportamento tem de ter um carácter autoritário, senão mesmo ditatorial. Sabemos que nesse tipo de Estados, a governação é assumida por pessoas que não olham aos meios para atingir os seus fins. Sabemos também que quando os objectivos do Estado se sobrepõem aos direitos individuais, a condição humana sofre graves prejuízos. Então o que nos falta para percebermos que a preconizada solução para a crise pode ser o agravamento da nossa condição como humanos e como cidadãos? Se o sistema capitalista já conferia muito poder às empresas, então qual o limite desse poder para o caso dos Estados Capitalistas?

Geralmente, e a história serve precisamente para nos demonstrar a possibilidade de repetição de eventos do mesmo género, este tipo de tomada de posição por parte dos Estados e de quem os governa tem a tendência para se repetir frequentemente. Os ciclos de liberdade são precedidos e também seguidos de ciclos de opressão, independentemente da forma que a mesma assume. A história também prova que a liberdade é sempre a mais afectada por estas repetições cíclicas.

No caso de estarmos na presença de uma nova era, assente no capitalismo de Estado, quais serão as implicações para o actual sistema financeiro, económico e social? Estaremos de regresso ao Estado protector, mas também potencialmente ditador? Seremos todos dependentes das vontades supremas de quem gere esses mesmos Estados capitalistas?

O futuro é sempre uma incógnita, ou não fosse essa a condição mais implícita ao mesmo. Contudo, o futuro é de alguma forma determinado pelo que fazemos na actualidade. E o passado demonstra que muitas vezes a não tomada de posições na devida altura levou a resultados catastróficos para a humanidade. Por quantas mais vezes iremos repetir erros do passado?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A CAMINHO DO COLAPSO

OU COMO ALGUMA HIPOTÉTICA CRIAÇÃO DE VALOR PODE ENGANAR
© Manuel Teles Fernandes, 2009.

Sabemos que o grande princípio económico de criação de valor é a base de sustentação da nossa economia e sociedade, na medida em que é a produção de produtos e serviços que criam riqueza, por via do seu valor acrescentado.

Ao transformarmos uma matéria-prima num produto estamos a criar valor. Ao acrescentarmos algo a um dado produto estamos a aumentar o valor desse produto. O valor do produto pode ainda ser aumentado se lhe agregarmos um serviço complementar.
Da mesma forma a singular prestação de um serviço implica também criação de valor.

O valor acrescentado de um qualquer produto ou serviço que seja produzido é, primeiro, transformado em riqueza para uma dada economia, aumentando o seu PIB e, se for exportado, aumenta a preservação da riqueza do país por via do seu impacte positivo na balança externa de pagamentos.

Em teoria, se um país produzir tudo o que consome, produtos e serviços, não importando nada mas também não exportando nada do que produz, terá uma balança de pagamentos nula, mas manterá a sua capacidade de sobrevivência autónoma. A produção e exportação de bens transaccionáveis serve o propósito de melhorar ou ter uma balança externa de pagamentos positiva.

Os bens transaccionáveis, na sua forma de produto e/ou de serviço e objecto de valor acrescentado, são os que mais contribuem para o desenvolvimento de qualquer economia. Sobre eles, com base no seu valor acrescentado, os Estados fazem incidir impostos que são utilizados para diferentes fins.

Aumentar o valor de um produto por agregação de um serviço é algo que pode satisfazer as necessidades de quem o faz mas que, mesmo contribuindo para o aumento do PIB, pode não contribuir em nada para o aumento da criação de valor real dentro de uma economia, excepto se esse produto com serviço agregado for exportado.

Enquanto a produção de qualquer produto, que tenha utilização e seja passível de ser transaccionado, dentro de uma economia de mercado implica sempre a criação de valor acrescentado, a produção de alguns serviços pode não implicar o mesmo resultado. O próprio conceito de serviço, perene como é, impossibilitado de armazenagem ou de reutilização, implica que existam perdas na sua criação de valor. Mais, muitos dos serviços com carácter público ou social acabam por não acrescentar qualquer riqueza a uma economia, excepto quando implicam entrada de divisas. Não que esses serviços não sejam necessários, mas o seu custo tem de ser suportado pelo excesso de valor criado e acumulado noutras actividades. O mesmo se passa com os serviços financeiros que não acrescentam valor cumulativo ao já existente.

Assim, apesar de serem objecto de impostos sobre o seu valor acrescentado e fazendo parte do PIB, muitos serviços não criam “valor” real para a economia, apesar de contribuírem para o crescimento da mesma, por via do aumento do PIB. Esses serviços estão simplesmente a consumir recursos existentes, criados e acumulados por outras actividades.

Assim, o crescimento do PIB, apesar de real, pode não contribuir na sua totalidade para a acumulação do valor e, consequentemente, da riqueza total de uma economia, fazendo com que se tenha a percepção de uma aparente melhoria da mesma economia, mas que efectivamente não é real.

O que se tem passado nos últimos tempos, como atesta o gráfico da Fig. 1, ainda que apenas para um período recente de cinco anos, é que a economia Portuguesa tem sustentado o seu crescimento no aumento da criação de valor, sujeito a impostos de valor acrescentado (IVA), no sector terciário, isto é, nos serviços, muitos deles no âmbito dos serviços públicos que não criam valor real para a economia.

Assim, estamos a consumir mais recursos sem que tenhamos criado e acumulado valor e riqueza noutras actividades, o que se tem resolvido por via do endividamento, neste caso, externo.

Esta linha estratégica utilizada para manter o crescimento do PIB nos últimos anos tem a característica de ser bastante enganadora mas os mais desatentos, quiçá para aqueles que apenas conseguem planear e determinar objectivos a curto prazo. O crescimento de que necessitamos é de valor acrescentado em bens transaccionáveis, que possam ser exportados, aumentando assim a entrada de divisas, quer sejam esses bens produtos ou serviços. Produtos, de uma utilização única ou continuada, serviços assentes em tecnologias e conhecimentos que possam garantir a continuidade de criação de valor, ideias e conhecimentos que possam ser transferidos, todos em troca de divisas, são essenciais para nos desviar da tendência actual de “falso” crescimento e nos colocar no caminho da criação de valor real.

Esta questão de criação de valor tem de ser explicada e ensinada a empresários, empreendedores, gestores e trabalhadores, de forma geral, para que o domínio deste conhecimento possa alavancar o potencial criativo que existe entre nós.

Contudo, a ignorância poderá levar-nos ao abismo, apesar da falsa percepção de que estamos a criar muito valor através da nossa imensa actividade colectiva.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A obsessão do Estado pelas multas.

Está-se a verificar actualmente um enorme esforço do Estado em conseguir receita por força da cobrança de coimas.
Aparentemente, à falta de receitas por via dos impostos, o Estado socorre-se do expediente da coima para obter receitas para os seus cofres.
Sem qualquer crítica às leis que fundamentam as coimas, sabendo-se que estas são uma das formas que o Estado tem para regular os mercados e colocar todos os agentes em pé de igualdade, não deixa de ser estranho ver a forma arbitrária como as mesmas leis são aplicadas.
Assim, e como forma de tentar realizar a maior receita possível, as repartições de finanças de todo o país estão a enviar às empresas coimas de actos com cinco e mais anos, mesmo para além do que está estabelecido por lei como prazo limite para cobrança, em números nunca vistos antes.
Então acontecem coisas que atingem o nível do ridículo e que reflectem o verdadeiro intuito por detrás das acções do Estado, por via das repartições de finanças. O exemplo mais caricato é o de uma empresa que tendo uma despesa de 24,23 euros que não foi aceite em auditoria das finanças, levou à respectiva correcção em sede de custos dedutíveis para efeitos IRC, tendo o valor de imposto sido corrigido em 7,27 euros, o qual foi entregue para normalização da situação. Cinco anos depois, surge uma multa de oitocentos euros por apresentação de informações erradas. O Estado não foi em nada lesado, porque a correcção ao imposto foi feita, incluindo juros, mas agora, passados estes anos todos, quer penalizar a empresa com um montante que, se fosse um acto de mercado normal, não poderia ser intitulado como outra coisa senão de verdadeiro roubo.
Chegam-nos todos os dias informações sobre este estado de coisas que muitos já intitulam como “ditadura fiscal”.
Não admira que o número de novas empresas esteja a diminuir e que cada vez mais encerram mais empresas. Quem é suficientemente louco para querer ser empresário num ambiente destes? Legalidade é uma coisa, e todos os cidadãos e empresários devem prezar por cumprir com as leis. Porém, abuso de autoridade e utilização discricionária do poder que é conferido pelo Estado, por parte dos agentes que aplicam as leis, é outra.
Ensina-nos o bom senso e a experiência que em tudo deve existir um balanço ou equilíbrio. Neste caso, não existe qualquer equilíbrio nas acções do Estado, pelo menos enquanto cobrador. Pena é que não tenha a mesma atitude de exigência de rigor para cumprir com as suas obrigações para com os cidadãos e fornecedores.

terça-feira, 26 de maio de 2009

VISÃO MORTIFERA (ECONÓMICA E SOCIALMENTE FALANDO)

O FUTURO E A SUA CONSTANTE INCERTEZA.

Ao longo dos tempos, o homem tem persistentemente tentado perceber e antever o que poderá vir a acontecer no futuro. Possuísse o homem essa capacidade e teria automaticamente também a de alterar os acontecimentos presentes de forma a influenciar controladamente o futuro.
Para poder fazer previsões para o futuro, há quem defenda a utilização da informação sobre passado e, com base no pressuposto de que a história se repete, utiliza as tendências identificadas na análise histórica para desenhar os acontecimentos futuros. Outros defendem uma ruptura com o passado e tentam “out of the box” encontrar especulativamente causas e efeitos que possam determinar o que irá acontecer no futuro. Efectivamente, qualquer um dos métodos enferma de defeitos. O primeiro, principalmente porque o que aconteceu no passado foi o resultado de um conjunto de variáveis causais que será quase impossível que se venham a repetir no futuro por força da mudança que os próprios eventos passados tiveram sobre o ambiente. O segundo porque assenta principalmente na especulação meramente imaginativa e visionária, não tendo em consideração a efectiva evolução do conjunto dos factores ou variáveis causais que possam vir a ser determinantes para fazer acontecer o próprio futuro.
Assim, e sem a capacidade de conseguir com alguma precisão prever o futuro, resta-nos combinar um pouco do estudo do passado e um pouco do visionamento da potencial evolução dos factores causais e ir criando cenários, mais ou menos discutíveis, que nos possam dar uma ideia do que o futuro poderá potencialmente vir a proporcionar-nos.


O QUE A HISTÓRIA NOS CONTA

O primeiro salto que levou o homem a se diferenciar dos seus restantes parentes primatas, e consequentemente a seguir uma linha de desenvolvimento próprio, com capacidade para influenciar esse mesmo desenvolvimento, foi a fabricação das suas próprias ferramentas. Ultrapassando os seus parentes primatas, que se limitavam a utilizar o que existia na natureza ainda que com carácter de ferramenta, como um simples pau para derrubar um fruto de uma árvore, o homem criou as suas ferramentas e outros meios como fruto da sua capacidade de perceber que existe tempo, consequentemente futuro, e dessa forma desenvolveu meios para preservar e armazenar não só as suas próprias ferramentas como o resultado da sua actividade de recolector e caçador para utilização e consumo futuros.
O desejo de preservar e conservar os seus bens cria a necessidade de se organizar, primeiro em famílias e depois em tribos. A continuada procura de fontes de alimentos e de materiais para construir as suas ferramentas leva o homem a ser nómada e a deslocar-se para ambientes mais inóspitos e agressivos, o que o obriga a desenvolver novas soluções para os agora novos problemas encontrados, mas sempre com base no aproveitamento da sua capacidade de usar e transformar o que a natureza lhe proporcionava. A sua inteligência e imaginação tinham separado definitivamente o homem dos constrangimentos naturais que continuavam a assolar os seus já mais distantes parentes primatas.
Se de alguma forma podemos caracterizar o sistema económico da época o mesmo assentava na capacidade de colher e preservar os seus bens, tenham sido eles de utilização ou de consumo.

O segundo salto que levou o homem mais longe acontece com a domesticação dos primeiros animais e a possibilidade de sedentarização das tribos. A necessidade de procura constante de alimentos desaparecia com a possibilidade de o homem produzir esses mesmos alimentos, vegetais ou animais. Mais, o homem, passou a utilizar os próprios animais domesticados para o ajudar na produção desses mesmos alimentos, em conjugação com novas ferramentas que criou para esse mesmo fim. O animal domesticado passou a ser o aliado principal do homem, diminuindo-lhe o esforço necessário para sobreviver.
Surge então a possibilidade de alguns deles se dedicarem a actividades especializadas e poderem viver a partir da troca dos produtos por si produzidos em troca de alimentos.
Por força da sedentarização, o homem organiza-se em povoados, aumentando consideravelmente a população dos mesmos e passando a ter uma organização social mais complexa.
A acumulação de ferramentas de utilização e bens de consumo é agora ainda mais fácil.
Contudo, se a sedentarização melhorou muitos dos aspectos da vida humana, eliminou-lhe a possibilidade de vaguear pelos territórios mais afastados na procura de bens naturais. A necessidade de ter esses bens abre a possibilidade de se iniciarem as trocas entre diferentes povoados. O comércio surge como forma expedita de colmatar as necessidades de uns e de valorizar os excedentes de outros.
As ferramentas vão sendo cada vez mais sofisticadas, e o homem assenta a sua sobrevivência no que produz com a ajuda dos animais domesticados e de ferramentas mais complexas.
O sistema económico assentava principalmente na posse da terra de onde se pode extrair bens de consumo e na posse ou domínio da capacidade produtiva assente no homem, muitas vezes como escravo, nos animais domesticados e nas ferramentas necessárias à produção (tanto no campo agrícola, como piscatório como mesmo no campo bélico). O capital (moeda) é importante como meio de troca nas transacções mas não é determinante na geração de valor, salvo raras excepções que não assumem um peso determinante na evolução da economia, apesar de nos últimos séculos deste segundo período o capital ter assumido uma maior importância na economia, face ao peso do comércio na mesma.

O terceiro salto que levou o homem a mais um grande avanço no seu desenvolvimento como sociedade e como economia é definido pelo início da revolução industrial. A máquina a vapor e depois, progressivamente, o motor a explosão e a electricidade, a par do desenvolvimento no campo da química da síntese de matérias-primas retiradas da natureza, levaram a que o homem desse até a esse momento na sua história o seu maior salto evolutivo.
A industrialização permite a transferência da mão-de-obra dos campos para as cidades, deixando para trás uma agricultura de sobrevivência cada vez mais esgotada para passar a ser valorizada em função da sua capacidade produtiva nas novas fábricas de novos produtos e maquinarias.
A revolução industrial revolucionou a própria agricultura num processo de drenagem da mão-de-obra que ainda persistia em ser fiel à mesma.
A revolução industrial criou capacidade de produzir produtos de consumo e ferramentas a custo baixo, democratizando a economia.
A revolução industrial criou ainda a possibilidade da indústria bélica se desenvolver para áreas nunca pensadas anteriormente, também ela indutora do desenvolvimento da própria revolução industrial.
A importância passou, repentinamente, da utilização conjugada de um homem ou animal domesticado e de uma ferramenta para a utilização de uma máquina por um homem.
A máquina substitui o animal, mas ainda necessita do homem para a tornar produtiva.
O custo de produção de muitos produtos e bens de primeira necessidade baixa, porque a produtividade aumenta, a capacidade de remunerar os trabalhadores industriais aumenta porque as margens também crescem, os trabalhadores industriais tornam-se também eles ávidos consumidores de bens e serviços, alguns serviços surgem para dar resposta a essa agora nova procura massificada como o turismo, a saúde, a educação e outras, a construção de habitações para a nova classe do proletariado desenvolve-se face à capacidade de aquisição, tornando-se numa nova e lucrativa indústria e ainda assim sobra capacidade aquisitiva da população produtiva para outros bens relacionados com o luxo e o bem-estar.
A criação de valor leva à procura de novos produtos, que na sua resposta acabam por criar mais valor. Entra-se numa espiral de criação de valor, suportada pela componente financeira que garante esse mesmo valor através da gestão cambial das moedas e da sua disponibilização.
O sistema económico assenta principalmente no capital, enquanto a posse de terra perde a sua importância determinante para a criação de valor, e é, determinantemente, o capital que sustenta o investimento gerador de valor acrescentado que suporta o crescimento da economia. A sociedade tende a ser mais igualitária no que diz respeito ao trabalho e à sua compensação, os donos da terra perdem a sua força e os donos do capital exercem o seu poder através da selectividade de investimentos e das respectivas rentabilidades.
A força da opinião pública conhece uma nova dimensão e as elites económicas, políticas, religiosas, militares e sociais perdem a sua capacidade de exercer a sua vontade pela força e tendem a preferir o processo de exercer o seu poder pela persuasão.

O quarto salto na evolução do homem está relacionado com a revolução nas tecnologias de informação e comunicação bem como no domínio de novas formas de energia (ainda se há-de encontrar uma designação apropriada para este novo ciclo).
O homem que durante o período anterior necessitava de si próprio para inventar, dominar e utilizar as máquinas, vê-se agora na posição de apenas de ter de criar ou inventar as soluções, pois as tecnologias de informação e comunicação permitem-lhe que o controlo e utilização da parte “máquina” de qualquer uma “solução” seja feita sem a sua presença.
A automação/robotização é crescente e irreversível. O homem cria a máquina que, com a ajuda da componente IT, também por si criada, será completamente independente do controlo, utilização e preocupação do ser humano. O homem cria as máquinas que podem produzir outras máquinas que, por sua vez, poderão produzir os bens e serviços de que o mesmo homem necessita, sem que o dito homem necessite de utilizar mais do que a sua capacidade imaginativa, criativa e racional para o efeito desejado.
O homem, dentro de poucas décadas, com base na tecnologia já existente no tempo actual, não irá necessitar de outro homem para fazer funcionar o quer que seja. O homem é por si o criador e o beneficiário final de um sistema complexo mas completo que lhe permite satisfazer todas as suas necessidades e usufruir da qualidade de vida que sempre ambicionou, a um custo demasiadamente reduzido por força do baixo custo da máquina informatizada.
Para os mais temerosos do progresso, sabemos que a capacidade de criar está associada á capacidade de “sonhar” e de conceber algo abstracto, coisa que a máquina por melhor software que possa ter nunca irá conseguir porque lhe faltará a componente funcional química que o cérebro humano possui de forma bastante desenvolvida e ainda pouco explorada, pelo que o domínio do homem pela máquina não passará de pura ficção científica a milhares de anos-luz de nós.


SERÃO OS INTANGÍVEIS QUE CRIAM MAIS VALOR?

O valor é um conceito que pode ser visto de diferentes perspectivas.
Uma das perspectivas está relacionada com o valor que alguém obtém por desenvolver uma actividade ou obter um resultado, quer utilize ou não qualquer input, mas obtendo sempre um output que pode ser transaccionado. Este é o valor para quem produz e/ou “vende”.
Outra perspectiva é da de alguém que para obter uma determinada “coisa”, tenha a mesma forma material ou não, vai ter de pagar, para o efeito da aquisição da “coisa”, com algum tipo de meios ou recursos. Este é o valor para quem “compra”.
Uma terceira perspectiva, mais relacionada com a sociedade em geral, está conectado com os aspectos tangíveis e intangíveis, estes últimos com carácter mais emocional, que as “coisas” podem ter para alguém que, mesmo não tendo nenhum interesse directo, se relaciona de alguma forma com a “coisa”. Este é o valor, na forma de somatório dos valores anteriores, que para quem se “relaciona” de alguma forma com a coisa em causa, se reflecte na sociedade na sua forma mais simples, ou seja, na criação de riqueza.

O primeiro conceito de valor, relacionado com quem produz algo, tem a ver com a diferença dos recursos utilizados e os recursos obtidos como forma de compensação pelo resultado obtido.
A colocação de uma semente no solo que futuramente irá gerar uma planta que por sua vez produzirá meio quilograma de novas sementes é um processo de acrescentar valor. A natureza já o faz de forma natural. O homem aprendeu a reproduzir o processo de forma controlada e mais eficaz. Assim, o output pode ser transaccionado ou consumido por quem criou esse valor. Contudo, ao consumir ou transaccionar o referido produto, a criação de valor termina para o seu criador inicial.
A transformação de uma matéria-prima natural, como a duma pedra num martelo polido ou lascado pré-histórico, foi uma das primeiras formas de criar valor que não desaparecia com uma única utilização, mas antes criava a possibilidade de replicar o desempenho de algumas funções e com maior eficácia. Neste caso, o output pode ser transaccionado ou utilizado por quem criou o valor da “coisa” inicial para criar novo valor noutras “coisas”.
O valor de um qualquer produto ia podendo ser acrescentado até um determinado ponto máximo, sendo que quando era consumido ou destruído perdia-se por completo o seu valor. Isso acontecia, e ainda acontece, com a alimentação ou com bens materiais, como utensílio.
O valor que os bens produzidos pelo homem poderiam ter tinha a ver com o tempo necessário para produzi-los ou com a dificuldade que poderia existir em produzi-los. O conceito ainda hoje se aplica. Quanto mais difícil é produzir um determinado bem ou mais tempo o mesmo leva a ser produzido maior o valor que poderemos determinar para o mesmo. Se para produzir algo, nós próprios podemos fazê-lo devido à sua simplicidade e ao pouco tempo aplicado na sua produção, é normal que não atribuamos valor a esse produto ou serviço e, em vez de o adquirir por um determinado montante, acabamos nós por fazê-lo.
Quanto maior a necessidade de adquirir conhecimentos e competências especiais para produzir um determinado produto maior é o valor do mesmo na medida em que exige de quem o queira reproduzir um maior investimento na aprendizagem necessária para o vir a produzir e, consequentemente, venha também a querer ser mais compensado pela sua “venda”.

O segundo conceito de valor é o de quem adquire ou “compra” uma qualquer coisa, seja esta um produto ou serviço, isto é, quer seja material ou imaterial.
O “valor” de uma coisa é sempre o resultado da função “satisfação de necessidades” / “recursos utilizados”. O número de funções desempenhadas, o nível qualitativo desse desempenho, o preço pago e outros recursos utilizados como tempo, a disponibilidade ou escassez e outros são todos factores que influenciam o “valor” da coisa, ou seja, do produto muitas vezes com muitos serviços já agregados, como instalação, entrega, manutenção, que, no seu todo, se torna na “solução” para uma determinada necessidade.
As “soluções”, (entenda-se por solução produto, serviço ou a combinação de ambos), podem ser percepcionadas ou entendidas como comuns e simples (iguais às demais soluções para o mesmo problema), assumindo um valor de “commodity”, ou únicas (diferentes funcional e qualitativamente) e complexas, passando a ter um valor de “premium” (Fernandes, 2008). Naturalmente que o preço que o consumidor ou comprador está disposto a pagar pela primeira é sempre muito inferior ao que se dispõe pagar pela segunda.
A “solução” só existirá se der resposta a uma determinada necessidade. Sabemos que as necessidades podem assumir vários níveis de importância para o consumidor, ou para ser mais preciso, para o ser humano: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de realização pessoal (Maslow, 1943). Assim, para as necessidades fisiológicas a maioria das soluções apresentadas ao mercado tendem a ser produzidas como “commodities”, na medida em que visam responder a necessidades básicas com funções meramente intrínsecas à própria “solução”. Conforme vamos passando para outros níveis de necessidades, como de segurança e sociais, as “soluções” que a oferta disponibiliza vão-se aproximando e chegando em quantidade ao valor “premium”. “Soluções” para o topo da pirâmide hierárquica das necessidades serão potencialmente todas de valor “premium”. Os produtos considerados “luxo” dão claramente resposta a necessidades essencialmente emocionais que se encontram nos últimos tipos de necessidades identificadas atrás.
Existe uma clara relação entre o valor das “soluções”, onde se inclui o preço como parte dos recursos necessários para se obter a satisfação das necessidades, e o tipo de necessidade a que as mesmas soluções dão resposta.

O terceiro aspecto do valor, na sua forma mais holística, está relacionado com a sociedade em geral, e reflecte-se nessa mesma sociedade na criação de riqueza, comunitária ou individualizada, mas que influencia o nível de bem estar, de parte ou da totalidade da dita sociedade.
O valor acrescentado que se entende como podendo ser mais perto deste conceito holístico é aquele assenta na Cadeia de Valor (Porter, 1985), que combina e aglutina o valor de quem “vende” com o valor de quem “compra”, em que cada uma das soluções encontradas é claramente inferior nas “commodities” e superior nas “premium”. Esse mesmo valor acrescentado total pode ser resultante da componente tangível ou intangível da “solução”. A componente tangível é aquela que é “material”, podendo ter forma física ou não, que se pode desfazer, desgastar, utilizar e até desaparecer, como acontece quando ingerimos um alimento ou quando utilizamos uma passagem num qualquer meio de transporte. A componente intangível é aquela que, também pode ter forma física ou não, é “imaterial”, estando antes relacionada com o “conhecimento humano” e com a possibilidade da sua replicação. A tangibilidade está agregada à contratualização existente entre as partes envolvidas na transacção da “solução” e a intangibilidade está conectada à não contratualização entre as partes envolvidas na transacção da “solução”(Allee, 2003). De acordo com esta linha de raciocínio, poderemos avaliar o valor que uma determinada “solução” pode proporcionar, não só a quem a produziu e/ou vendeu, mas também a quem a adquiriu e ainda à sociedade em geral.

Com base na compreensão destas três perspectivas de valor poderemos identificar quatro tipos de valor.
O primeiro é o “valor tangível simples” de uma solução, como por exemplo um alimento, um combustível ou uma viagem em meio de transporte, que tem um somatório de valor limitado em função da sua duração finita ou impossibilidade de repetição. No fim de desempenhar as suas funções principais, a solução utilizada para resolver um problema específico, é destruído ou gasta até à destruição pela sua utilização ou é perdida a possibilidade da sua utilização, o que lhe retira o valor ou possibilidade de repetição de criação de valor.
O segundo é o “valor tangível complexo” de uma solução, como no caso de uma máquina, edifício ou estrada. O seu valor não se limita aquele que é providenciado a quem criou a solução mas também o que é proporcionado a quem repetidamente a utiliza para criar mais valor noutras soluções. Enquanto a solução durar ou for utilizável, a criação de valor agregada à solução é potencialmente muito mais elevada do que no primeiro caso, porque neste caso é possível a repetição de criação de valor ao longo de um período de tempo, mais ou menos longo.
As soluções que são caracterizadas por estes dois tipos de valor acrescentado sofrem, por via do fenómeno da “comoditização”, de uma constante perda de capacidade de produzir valor para o fabricante/vendedor.
O terceiro é o “valor intangível simples” de uma solução, com base no valor intangível da coisa ou ideia, como no exemplo de um quadro ou escultura ou ainda de um produto resultante de inovação de ruptura (Fernandes, 2008), mas apenas enquanto o mesmo não sofre os efeitos do processo natural de “comoditização”. O valor da solução não é determinado pela sua componente material mas sim pela intelectual. O valor está na impossibilidade de repetição da solução, isto é, por esta ser única e irrepetível, pelo menos temporariamente no caso da inovação, e por ter agregado uma forte componente emocional que é inseparável da componente material. No caso de uma obra de arte, a sua destruição anula o seu valor por completo e impossibilita que mais valor lhe seja acrescentado pelas mais variadas razões, como estima ou exclusividade. No caso de um produto resultante de inovação de ruptura a sua comoditização baixa-lhe drasticamente o seu potencial de criação de elevado valor acrescentado.
O quarto é o “valor intangível complexo” de uma solução, paradoxalmente com base no potencial valor tangível que uma solução ou ideia pode criar, como uma teoria ou peça musical ou ainda uma descoberta fruto de um processo de investigação e desenvolvimento, como a descoberta da radioactividade, que podem ir criando valor acrescentado, potencialmente, de forma ilimitada ao longo do tempo. O valor da solução é determinado pela sua componente tangível, fundada na componente intangível que é resultante da associação intelectual de uma ideia com as emoções que se podem criar em todos que se relacionem com a solução, sendo que a solução cria valor para alguma das partes envolvidas ou para todas elas sempre que se verifica a sua repetição. A sua destruição física é potencialmente impossível, na medida em que as teorias e descobertas são largamente disseminadas no mercado e as simples ideias podem ser transmitidas de forma não física, como a transmissão oral, o que faz com que a solução possa ser repetida e possa continuar infinitamente a criar valor para as partes envolvidas.
Pegando nos extremos, pode-se colocar a questão de quem cria mais valor: quem produziu ao longo da sua vida toneladas de um dado alimento ou milhares de peças de um determinado equipamento ou quem compôs uma única peça de teatro que seja um sucesso durante muitas décadas ou mesmo séculos ou a criação de uma linguagem informática que possa ser utilizada pelo mercado em geral, repetidas vezes sem limite, proporcionando assim aos muitos intervenientes nessa repetição o beneficio do valor acrescentado repetidamente criado?

OS CENÁRIOS MAIS PROVÁVEIS PARA O FUTURO

O passado e o presente
Durante os últimos séculos, a sociedade e a economia sofreram uma enorme transformação, passando pela revolução industrial e pela revolução da informação.
As taxas de ocupação da mão-de-obra em cada um dos sectores ocupacionais sofreram enormes alterações, como representado na Figura 1. (nota: para efeito de representação da evolução das taxas de ocupação nos diferentes sectores por efeito dos factores endógenos, foram retirados do gráfico desvios causados por factores exógenos como períodos de guerra ou de catástrofe[1]).



A uma primeira fase em que cerca de metade da população vivia da actividade agrícola, a revolução industrial levou a população agrícola a procurar actividade na indústria, que assim funcionou como sector de substituição à agricultura como também absorveu parte dos inactivos, especialmente a população feminina.
O crescimento económico que a indústria introduziu na sociedade, criou uma nova classe, a classe média, mais exigente e com maior poder de compra, que induziu ainda mais crescimento à indústria mas também, de forma vincada, aos serviços.
A continuação da diminuição da taxa de ocupação da mão-de-obra no sector primário foi sendo continuadamente compensada pelo aumento da taxa de ocupação nos sectores secundário e terciário, tendo-se verificado uma diminuição na taxa de população não activa, que literalmente se passou a resumir a jovens, na sua fase de educação e formação, a idosos, na sua fase de reforma, e à população desempregada, esta com tendência a uma crescente diminuição até níveis residuais.
A automação dos processos nos últimos tempos, tanto agrícolas como industriais, muita dela por força da utilização de tecnologias de informação, tem diminuído a necessidade de utilização de mão-de-obra de forma tão intensiva nos sectores primário e secundário, sendo esta absorvida pelo sector terciário.
A revolução da informação veio aumentar a capacidade do sector secundário em criar mais “valor tangível complexo” por via da automação dos processos e também iniciar o processo de criação de “valor intangível simples” por via de soluções com base na inovação de ruptura que por si próprias são indutoras na criação de mais valor acrescentado. Este fenómeno, amplamente benéfico para as diferentes indústrias transformadoras já existentes, foi, acima de tudo, indutor de elevado valor acrescentado para as actividades industriais relacionadas com a inovação, como processo de transportar os novos conhecimentos para produtos aceites pelo mercado. Contudo, a mesma revolução da informação possibilitou ainda a criação de novas indústrias que criam “valor intangível complexo”, por via de I&D, na forma de novas descobertas ou criações que posteriormente são utilizados em processos de inovação de ruptura.
O sector terciário também beneficiou bastante com a revolução da informação, tendo-se criado principalmente novos serviços com base nas TIC, com resultados tanto no campo de criação de “valor tangível simples” como no de “valor tangível complexo”.
A disponibilidade de capital proporcionada, essencialmente à classe alta mas também à classe média, pelo rápido crescimento económico nas últimas décadas no ocidente, fez com que muitas das actividades criadoras de “valor intangível simples” e/ou “valor intangível complexo” beneficiassem também de mais procura e, consequentemente, de maior desenvolvimento.


O presente e futuro próximo
A continuada automação dos processos de extracção e de produção agrícola irão manter o baixo nível de empregabilidade do sector primário, por todo o mundo.
Nos países ditos mais desenvolvidos, com a deslocação da indústria de mão-de-obra intensiva para regiões com custos laborais mais baixos, o sector secundário irá ver a sua taxa de empregabilidade baixar drasticamente.
A mais do que previsível diminuição de necessidade de utilização de mão-de-obra nos serviços por força dos processos de automação irá também tendencialmente baixar a taxa de emprego do sector terciário.
A subida da taxa de desemprego será a consequência imediata deste fenómeno.
O aumento da esperança de viva irá fazer subir a percentagem de população não activa, com a agravante de trazer um custo adicional à sociedade para manter a qualidade de vida dessa mesma população.
O desaparecimento da classe média consumista é e será cada vez mais palpável na sociedade ocidental, fazendo baixar a procura de muitos produtos e serviços que não sejam de primeira necessidade, portanto daqueles com valor acrescentado mais elevado (de todos os tipos menos do tipo “valor tangível simples”).
A diminuição da capacidade de compra por parte da procura e a tentativa de manutenção das actuais capacidades produtivas levarão inevitavelmente a um excesso de produção insuportável, eliminando actividades produtivas e piorando a situação da empregabilidade nos sectores secundário e terciário.
A relação da pirâmide de necessidades com a pirâmide de consumidores tornar-se-á menos proporcional, sendo os produtos de primeira necessidade ou de satisfação das necessidades primárias aqueles que manterão ainda uma procura consistente ao nível das “soluções” mais comoditizadas, em contraponto com a manutenção ou aumento de procura de “soluções” “premium”, principalmente nos níveis superiores da pirâmide das necessidades para o topo da pirâmide dos consumidores, classes alta e média-alta.


As causas e os efeitos
O erro do crescimento com base no consumo interno foi, para muitos países ocidentais, quase fatal, principalmente quando assente na manutenção da capacidade de compra dos seus consumidores com base em financiamento, muito dele de origem externa, para comprar “soluções” cujo valor acrescentado, independentemente do seu tipo, ficava nos países fornecedores das mesmas.
A perda de muitas das actividades criadoras de valor para outras economias cria um enorme problema à economia ocidental, especialmente nos países onde impera o Estado Social, que se financiam através dos impostos sobre o valor acrescentado. Se este deixar de ser criado de forma consistente e em quantidade suficiente, os impostos correm o risco de se tornarem insignificantes em montante e insuficientes para as necessidades de suporte ao sistema social.
O potencialmente rápido aumento da população não activa, cada vez mais carenciada e necessitada da ajuda do Estado Social, vai criar mais necessidade de aumentar os impostos sobre as actividades ainda criadoras de valor até valores extremos, impossibilitando que as mesmas se mantenham lucrativas. Mesmo que a população activa, em qualquer um dos sectores económicos, se dediquem mais a actividades que criem valor acrescentado dos tipos “valor tangível composto” e “valor tangível e intangível composto”, capazes de disponibilizarem margens de lucro muito elevadas, o peso da população não activa será tão grande sobre a sociedade e o Estado que retirará, na forma de impostos, todo o lucro da actividade económica das empresas, desincentivando o investimento e o empreendorismo.
Esta já quase realidade na economia ocidental tenderá a estender-se a outras economias conforme estas vão imitando a primeira nos objectivos e processos, sendo uma questão de tempo o que ainda mantém a economia do globo em diferentes estágios.

Vários cenários podem ser criados a partir destas potenciais premissas.
A diminuição da população, induzida por diferentes métodos, pode ser uma forma de reduzir a desproporcionalidade criada no âmbito das taxas de ocupação, nomeadamente na quantidade de população não activa. Os métodos de reduzir a população poderão ser bastante diferentes entre si, desde o simples controlo de natalidade com determinação do número de descendentes por casal, passando por pandemias naturais ou introduzidas e podendo mesmo chegar à guerra entre populações.
A movimentação repentina das populações, das não activas na procura de emprego noutras paragens ou das activas na fuga à carga fiscal e perda de oportunidade, pode criar fortes instabilidades, primeiramente a nível nacional e/ou regional e posteriormente a nível continental e/ou mesmo global. Estas movimentações, voluntárias ou involuntárias, poderão criar desequilíbrios sociais e económicos que levem à tomada de acções drásticas pelos Estados, como o encerramento das fronteiras e o recuo na livre movimentação de pessoas, bens e capital.
A tomada de poder pelas populações activas, compostas pelas classes sociais mais altas e favorecidas, dominantes em função do poder que lhes advém de produzirem valor acrescentado para si próprias, pode levar à expulsão das populações não activas, forçando-as ao êxodo compulsivo, criando sociedades elitistas e fechadas, social e territorialmente, determinando-se a sua dimensão por via de processos de selectividade dos mais aptos para contribuírem para a criação de elevados graus de valor acrescentado, ou de “elitização” da sociedade. A segurança, interna e externa, será um dos grandes problemas deste tipo de solução.
Por outro lado, a tomada de poder pelas populações não activas, compostas por classes sociais mais baixas e desfavorecidas, pode levar à destruição da base do conhecimento e organizacional que suporta as actividades criadoras de elevado valor acrescentado, criando-se sociedades igualitárias mas pobres, assentes em actividades básicas e primárias, com a potencial perda do conhecimento desenvolvido ou adquirido e, consequentemente, da capacidade de criação de elevados graus de valor acrescentado, por via de um processo de “barbarização” da sociedade em que os bens intelectuais sofrerão destruição e os bens materiais divisão e degradação. O retrocesso económico e de qualidade de vida, bem como do desenvolvimento tecnológico será um dos grandes problemas deste tipo de solução.
Em qualquer uma destas duas últimas situações extremas, haverá uma enorme mudança do actual paradigma económico, com a potencial perda da importância da moeda, contrariada pelo aumento da importância e do valor do conhecimento individual. A facilidade de acesso às “soluções”, dentro de uma mesma sociedade organizada, tenderá a ser mais igualitário, e será essa maior ou menor facilidade de acesso que irá compensar quem tiver mais conhecimentos e não apenas capacidade económica. No caso da “barbarização” da sociedade os bens materiais são escassos e estão muito divididos, sendo dificultada a acumulação dos mesmos, o que retira valor à moeda. No caso da “elitização” da sociedade o acesso aos bens tende a ser quase livre, pela facilidade e baixo custo de produção, o que retira importância à moeda. É o conhecimento individual que se distinguirá e se fará valer para obtenção e potencial retenção de mais bens. Só a repetição do fenómeno de afastamento da capacidade de retenção de bens voltará a restituir importância e valor à moeda.

Como se pode mitigar estes efeitos?
Os pontos de vista seguintes estão relacionados com o lado dos negócios no âmbito da economia.
Necessitamos de humanizar a sociedade. A criação de valor e a sua distribuição de maneira que satisfaça todas as partes interessadas pode contribuir para mitigar o potencial colapso da sociedade. A necessidade e a possibilidade das pequenas empresas terem uma relação de maior proximidade entre investidores, gestores e trabalhadores, humaniza as relações entre estes e evita que existam interesses díspares e contrários entre todos, como acontece com as grandes empresas locais ou multinacionais. A construção de economias com base num tecido de pequenas empresas pode aproximar os interesses e possibilitar que o valor criado e a sua respectiva distribuição sejam mais equilibrados. As organizações deverão apostar na criação de valor acrescentado assente na I&D e na inovação de maneira a que o seu valor criado seja mais elevado para elas próprias mas também para os consumidores e para a sociedade. Contudo, para esse efeito é necessário investimento que as pequenas empresas raramente têm capacidade para fazer na medida certa e necessária.
Necessitamos de definir o papel do Estado. Alguns defendem que compete ao Estado mitigar as falhas do mercado, ajudando as empresas a criar mais valor acrescentado, por via de regulamentação que induza investimento e compensem a inerente assunção de um risco mais elevado. O Estado deve ser mais regulador e menos interveniente na economia, mantendo a exclusividade na segurança externa e interna e na justiça, intervindo na saúde, segurança social e edução quando o mercado não der resposta às necessidades existentes e deixando completamente na mão da iniciativa privada todas as outras actividades criadoras de valor acrescentado. A criação equilibrada de valor por e para todas as partes interessadas aumentará a capacidade de investimento das empresas e de consumo dos consumidores, tendo por base o valor acrescentado real resultante da participação de cada um. Contudo, a forma de avaliar o valor que cada uma das partes cria e gere deve ser equilibrada e isenta de manobras de especulação e de manipulação que tenham como principal objectivo o benefício de apenas uma pequena parte dos intervenientes e ignore as consequências futuras das mesmas manobras. O sistema de avaliação do valor acrescentado tem de ser determinado de forma a não cortar a iniciativa e o investimento como também a angariar a necessária receita ao Estado.
Necessitamos de reduzir a importância do capital. Os mercados de capital deverão adoptar formas de avaliação do valor acrescentado e não apenas do lucro obtido, meramente traduzível em capital.
Necessitamos de cidadãos responsáveis. Os indivíduos deverão ser avaliados em função da sua participação na criação de valor, de forma directa e indirecta, quer seja por via da sua pro-actividade e participação na acção ou actividade operacional como também na disponibilização do seu capital intelectual para as soluções criadas pelas empresas e outras organizações, dentro de um conceito de meritocracia. Compete aos cidadãos, de forma individual e colectiva, por sua própria iniciativa, desenvolverem competências, individuais e colectivas, que possam induzir criação de novas “soluções” por via da I&D e da inovação.

Conclusões
A mudança de paradigma na forma como a sociedade e os próprios Estados têm visto o valor até agora pode contribuir para uma sociedade mais justa na distribuição da riqueza gerada e acumulada e na compensação do esforço individual de cada um dos intervenientes.
A importância e o foco devem deixar de estar na posse de capital ou de posição social mas passar para o contributo fornecido por cada indivíduo para o bem comum, assumindo-se que o homem é um “animal social” e que dificilmente pode criar e acumular valor como resultado da sua exclusiva actividade individual.
Desta forma, muitos dos desequilíbrios actuais existentes entre indivíduos da mesma espécie, a raça humana, poderá assumir um maior equilíbrio e igualdade, mas tendo como base padrões mais elevados, sempre com o objectivo de nivelar por cima.
A principal a última questão é esta: irá o homem permitir que estados totalitários assumam o controlo das sociedades e das economias mundiais, na pior das hipóteses, ou irá suportar o aumento de importância dos indivíduos e dos Estados mais Keynesianos , como hipótese menos dramática.
Uma coisa acontecerá com quase toda a certeza: o capitalismo, como o conhecemos, irá desaparecer, mas isso já era, de qualquer maneira, inevitável a longo prazo.


Bibliografia:

Allee, V. (2003) The Future of Knowledge: Increasing Prosperity through Value Networks, Elsevier, MA: Burlington
Asimov, I. (1942) Runaround, in I Robot (1950), Gnome Press, NY.
European Norm EN 12973:2000, - Value Management, CEN, 2000
Fernandes, M. (2007) MAP – Moving along Alignments and Paradoxes, GT-Transnational, Lisbon
Fernandes, M. (2008) Negócios Mutantes e Paradoxais, Gestão Total, Lisboa
History of Domestication of Animals, and History of Industrial Revolution, www.historyworld.net/, visited on 2009, May 25th.
Maslow, A.H. (1943) A Theory of Human Motivation, Psychological Review 50(4):370-96.
Porter, M. (1985) Competitive Advantage: creating and sustaining superior performance, The Free Press, N.Y.
Toda, M. (2001) The history of human society as moulded by emotion: past, present and future, Social Science Information. 40: 153-176


[1] Fontes: Eurostats, INE, internet, com base nos valores para Portugal

quinta-feira, 14 de maio de 2009

PORQUE É QUE EU ESTOU PREOCUPADO?!

A minha preocupação assenta numa razão muito simples.
Vejamos rapidamente a forma como tem evoluído a sociedade nos últimos anos e como potencialmente poderá evoluir nas próximas décadas.

Até à revolução industrial, a maioria da população vivia da agricultura.
Com a máquina a vapor, o motor de explosão, a electricidade e a maquinação maciça que a revolução industrial nos trouxe, os trabalhadores agrícolas deslocaram-se para as cidades e passaram a trabalhar na indústria.
Nas últimas décadas, os serviços tem vindo a ocupar um maior número da população activa, com forte participação dos Estados Ocidentais na criação de uma máquina administrativa mais complexa e exigente.
De uma forma geral, teremos (não estou agora preocupado com os dados estatísticos correctos) cerca de um décimo da população activa na agricultura, metade dessa mesma população na indústria e a restante população activa nos serviços e administração pública.
A tendência é que estes valores se venham a alterar a curto prazo, com o progressivo desaparecimento da indústria (consequência da deslocação da indústria ocidental para países de mão de obra barata) e a sua substituição por serviços que incluam produtos, potencialmente de maior valor acrescentado, bem como serviços financeiros.
Este tem sido ou foi o paradigma aceite como a causa e a própria solução para os efeitos da globalização e da generalização dos princípios capitalistas por outras culturas.

Ora este paradigma coloca-nos uma questão. Onde se cria o valor necessário para criar riqueza? Muitos dos serviços não criam valor directo que permita a acumulação de riqueza a curto prazo, como por exemplo a educação. Outros serviços, como a construção, estão limitados ao valor especulativo dos mercados e não transaccionáveis para o exterior dos países. A hospitalidade não é uma actividade de mão-de-obra assim tão intensiva que absorva toda aquela que vai sendo liberdade pela indústria, apesar ainda assim de ser uma forma de obtenção de divisas externas. A maioria dos serviços públicos não cria nenhum valor acrescentado. Sabemos que é a indústria que produz “bens transaccionáveis” que podem ser exportados e, dessa forma, obter divisas para os países. Umas mais, outras menos, mas são as actividades industriais que acrescentam valor a uma qualquer matéria-prima ou a subproduto. Para além disso, a industria é cada vez mais robotizada, por via da conjugação da maquinação e das tecnologias de informação, necessitando de muito menos de mão-de-obra directa do que no passado. A própria indústria produtora das máquinas robotizadas é pouco utilizadora de mão-de-obra intensiva mas mais de capital intelectual e criativo.

Se a tendência é a que o peso da indústria, tanto nas balanças de pagamentos das economias ocidentais como na utilização de mão-de-obra seja cada vez menor, que o peso da agricultura se mantenha sem alterações demasiado visíveis, a não ser também a progressiva utilização de menos mão-de-obra por via da progressiva robotização da mesma, e a que por força da necessidade de utilização de cada vez menos recursos nos próprios serviços, onde é que vamos colocar toda a mão-de-obra excedentária que numa ou duas dezenas de anos iremos passar a ter de forma massiva, sendo que algum desse excesso já se verifica nalgumas bolsas regionais ou sectoriais.

Portugal não foi excepção neste descalabro macro estratégico. Deixamo-nos envolver no crescimento com base no consumo, suportado pelo financiamento externo, aumentando em duas décadas tremendamente a dívida externa de menos de dez para os actuais perto dos noventa porcento do PIB. Deixamos fugir a pouca indústria semi-pesada (nunca chegou a ser verdadeiramente pesada) e a de mão-de-obra intensiva que tínhamos para os países do oriente por força do custo da nossa mão-de-obra produtiva. Não substituímos essa mão-de-obra por outra extremamente especializada que pudesse funcionar como alternativa. Não soubemos criar serviços de elevado valor acrescentado, excepto nalgumas áreas da hospitalidade, mas ainda assim numa quantidade demasiado reduzida que possa ser tida como verdadeira substituição para a descida verificada na indústria. Não soubemos educar as novas gerações, criando-lhe competências suficientes para massivamente se envolverem na nova indústria da robotização das indústrias tradicionais, da agricultura e até de alguns tipos de serviço.

Sabemos que as pessoas têm de ter ocupação bem como necessitam de ter rendimento. Faltando a primeira por via da transformação do paradigma que ilustramos atrás, teremos forçosamente de suportar o segundo. Ora o rendimento da população não produtiva, como desempregados e reformados, é suportado pelos impostos da população activa. Se a relação entre a primeira e a segunda está cada vez mais desproporcional, isto é, há cada vez mais população dependente e menos população produtora de valor acrescentado, como vamos sustentar este balanço negativo?

Esta é a minha preocupação. Primeiro porque parece-me que os economistas ainda não quiseram perceber ao que esta situação nos pode levar e segundo porque os políticos não têm solução para o problema. Penso até que muitos deles nem chegam a perceber a existência do problema quanto mais saber como o resolver.

A degradação progressiva no balanço das actividades criadoras de valor vai-nos levar inevitavelmente para graves problemas económicos e, consequentemente, sociais.
A perturbação social já se iniciou nalguns nichos da nossa sociedade. O alastramento a uma grande maioria da população que deverá acontecer quando o Estado deixar de ter crédito para alimentar a máquina subsidiária dos que vão perdendo os seus empregos, o que estará para breve, vai-nos afectar sobremaneira.

Em breve veremos os estados ocidentais a promoverem, sabe-se lá de que forma, a saída ou eliminação de parte das suas populações. Temos gente a mais dependendo de tão poucos a criarem valor. E está provado que a estratégia de aumento da população dos países ocidentais por via da imigração vai piorar a situação, porque esta agora não vêm para produzir mas antes para ser sustentada.

Aproximam-se tempos conturbados, de grandes mudanças, que esperemos que não sejam tão dramáticos como se pode antever quando se elabora um raciocínio lógico. Resta-nos esperar, mas com grandes preocupações.

terça-feira, 12 de maio de 2009

PERDA DE ESPERANÇA

Esta notícia pode não ter nada de novo, mas leiam com atenção:
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Fisco fixa meta de 28 mil penhoras sobre o património dos gestores
Lígia Simões
Diário Económico: 12/05/09 00:05

Estão a ser alvos as contas, imóveis, produtos financeiros e prémios dos administradores de empresas com dívidas fiscais.

A actual conjuntura económica está a levar a um aumento do incumprimento no pagamento das dívidas fiscais. Por arrasto, estão também a disparar os processos contra gestores e administradores, para que estes paguem com o seu património pessoal as dívidas das empresas que administram ou gerem e não foram pagas a tempo e horas (reversão fiscal). Só nos três primeiros meses de 2009, a Administração Fiscal já concretizou cerca de 7.000 penhoras, o que contrasta com uma média trimestral de 4657 no ano passado. E as Finanças antecipam que, a este ritmo, no final do ano será atingido um recorde de penhoras de bens pertencentes a administradores ou gerentes.

"Como o número de reversões irá continuar a aumentar durante o corrente ano, observar-se-á um crescimento superior ao verificado em 2008 no número de penhoras dos bens pertencentes aos gerentes e administradores de empresas", revelou ao Diário Económico fonte oficial do Ministério das Finanças.
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A questão não é não penalizar os maus gestores que fazem tudo para perverter a verdade e utilizar esquemas para seu benefício. Esses bem merecem o castigo. Nunca poderia pôr em causa essa obrigação do Estado em repor a verdade dos factos.
Mas quando se passa a ter objectivos para o exercício de penhorar bens de gestores a favor do Estado, sabemos que a coisa se perverte por si própria. O que quer dizer que mesmo aqueles gerentes de micro e pequenas empresas que não conseguem sequer tirar o seu salário, quanto mais pagar a SS, o IRS, o IRC e o IVA (muitas vezes porque o Estado lhe deve dinheiro, directa ou indirectamente) vêm os seus parcos bens sofrer arresto para pagar a um Estado que não merece a menor consideração pelos exemplos que dá (olhem só a quantidade de dinheiro que foi “oferecida” ao sistema financeiro, leia-se bancos, a custas dos pagadores de impostos, sem que pareça que alguém dos culpados vá sofrer arrestos sobre os seus bens). Mais, quando o Estado paga reformas chorudas e indemnizações milionárias a quem se demite de cargos públicos, onde desempenhavam funções que nada representam nem nada produzem para o bem público.

Onde é que anda o nosso Presidente da República? Será que o nosso representante supremo não lê os lamentos constantes que vão passando pelos mais diversos fóruns?
Será que todos os que fazem parte do sistema têm orelhas mocas que nada ouvem, olhos cegos que nada vêem e bocas seladas que nada dizem?!
Será que estamos entregues apenas a nós próprios? Será que a democracia só serve para votarmos em alguém que não nos defende nem nunca defenderá? Será a democracia não passa de uma farsa que somente serve as elites?

Então façam com que os empresários desistam de o ser, porque a qualquer momento ficam sem tudo o que a custo conseguiram amealhar, façam com que os jovens deixem de querer ser empreendedores, porque apenas estarão a hipotecar o seu futuro, façam com que os trabalhadores deixem de ter trabalho, porque as empresas irão progressivamente desaparecer por força da desistências de empresários e empreendedores, e depois digam-me, sim, digam-me os políticos onde vão buscar os impostos sobre valor criado para pagar os seus gordos ordenados (quando comparados com o que produzem) e as suas chorudas reformas (oferecidas por nunca terem produzido um cêntimo de valor acrescentado).

Será que não existem já suficientes vozes a reclamar justiça? Será que só com uma revolução alguém dará atenção a este demasiado abuso daqueles que suportam a Estado e a crise?

Começo a perder muita da minha já reduzida esperança.

domingo, 10 de maio de 2009

UM MUNDO DE DESIGUALDADES

Recebi recentemente um email de um amigo que tenta demonstrar a dimensão do problema em que estamos metidos.
Os EUA e os países Europeus e Asiáticos enfiaram na economia (sistema financeiro) mais de mil biliões de dolars.Se alguém tiver os números certos, eu agradeço que me enviem os mesmos, para poder actualizar os cálculos que todos necessitamos de fazer para ver a verdadeira dimensão do problema.
Mas vamo-nos apenas restringir ao caso Português e do BPN.O Estado Português entrou inicialmente com 700 milhões de euros para salvar o referido banco. Aparentemente a Caixa já teve de entrar com mais 500 milhões (alguém pode confirmar estes números, por favor?)Assim, temos que para salvar o BNP (se não for ainda necessário mais dinheiro) já foram usados mil e duzento milhões de euros, que o Estado Português garantiu ao assumir dívida pública, que vai custar juros a taxas agora menos convidativas porque o nosso rating piorou.Sabendo que somos 10 milhões de habitantes, a nossa participação individual para salvar o BPN será de 120 euros. Como metade da população não trabalha, os que o fazem terão de pagar então 240 euros. Como cerca de metade da população activa pouco mais ganha do que o salário mínimo, pouco poderão contribuir para o pagamento desta dívida (não se consegue tirar nada de aonde já há pouco). Ora vai cair sobre os que ganham mais a dolorosa factura, que calculada a "olho" já ascende a cerca de 500 euros. Este é o valor que aproximadamente 2,5 milhões de portugueses vai ter de pagar pela "salvação" do BPN.
Em Espanha o Estado entrou com 30 biliões de euros para salvar a banca: eles são 46 milhões, o que dá 650 euros a cada espanhol. Neste caso, o dos espanhóis, até apetece dizer: OlÉ! grande faena com direito a 2 orelhas e rabo! Porque quando eles começarem a retirar os não activos, desempregados e activos com mais baixos rendimentos, a factura deverá subir para cerca de 2500 euros para cada um daqueles que efectivamente vai pagar a crise.
E agora quem são os sortudos que terão de pagar a crise? A quem é que a factura vai bater à porta? A resposta, como não poderia deixar de ser, é a classe média, claro.
Assim, preparemo-nos para prescindir de uma das férias que estavamos a planear para este ou próximo ano, porque vamos ter de tapar o buraco criado (e o pior é que foi gozado em bons hoteis e outros divertimentos) por uns senhores que se limitaram a roubar legalmente o que é dos outros. Agora vem o Estado e "retira-nos" sem nossa autorização, o mesmo valor para pagar a conta que alguém deixou por pagar.
O conceito de "ladrão" que os nossos avós nos ensinaram está a sofrer uma forte alteração no seu significado e contexto de aplicação. Retirar algo a alguém porque se é necessitado pode até ser considerado como "não roubo". Retirar dinheiro aos contribuintes para pagar as dívidas de gestores também não é visto como roubo. Mas não pagar a Segurança Social ou IRC é um roubo que dá prisão, se não existirem bens para arresto aos administradores e gerentes, mesmo que a causa tenha sido a crise que os tais senhores que se "abotoaram com a guita" criaram para seu exclusivo prazer e benefício.
Efectivamente vivemos num mundo de desigualdades.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

HUMANISMO OU NOVO-HUMANISMO?

Uma das minhas viagens internacionais que mais me impressionou foi à India, a Kolkata.

Sendo eu um "Novo Humanista" (querendo isto dizer que o homem é responsável pelo próprio homem e pelo mundo, e não ele, homem, o centro do mundo), não sendo de esquerda nem de direita (politicamente falando) mas antes tendo ideias próprias (não costumo adoptar ideias de outros sem primeiro as criar como minhas) e vendo as imensas diferenças sociais que existem nesse grande mundo que é a India, disse para comigo que esse não seria o meu mundo ideal (como se tal pudesse existir, eu sei, mas gosto sempre de pensar nesses termos, os do ideal).

Eu percebo, compreendo, entendo, tenho de aceitar (quem sou eu para não aceitar) tudo o que a sociedade indiana tem para nos dar e mostrar, que são enormes lições, soubessemos nós interpretá-las e aprendê-las.Percebo, compreendo, entendo e aceito que existirão na India muitas pessoas que apenas não se querem preocupar, ambicionar, desejar ter mais do que apenas o suficiente para comer "agora". O clima ajuda a que não se preocupem muito com bens existênciais para além da comida. O clima também não convida ao esforço. Estivessem na Filandia,e as mesmas pessoas teriam de altrerar as suas opções.

Mas também vi gente que trabalha, arduamente, que ganha muito dinheiro e depois vai para as discotecas caras e de elites beber e "divertirem-se" como se não houvesse amanhã, tentando ser felizes por via daquilo que nós ocidentais fazemos com a mesma esperança (sex, drugs and rock n` roll).Aqui, duvido que estes últimos consigam ser mais felizes dos que os primeiros, mas isso seria tema para muita discussão e nenhuma conclusão, pois a respostas farão sempre parte das opções individuais de cada um de nós).

E mais não teria a acrescentar, nem sobre a sociedade Indiana nem de qualquer outro país ou região no mundo, não acontecesse uma coisa que, no meu entender, não entendo como "humanista": o abuso ou o tirar partido do nosso semelhante em nosso proveito próprio, sem que consideremos que do outro lado também está um ser humano (esta questão já se coloca relativamente aos animais).

Naturalmente que eliminar este factor será impossível, por mais que tentemos criar um mundo perfeito. O que são os imigrantes em todo o mundo? o que são os ileterados em todo o mundo? o que são os miseráveis em todo o mundo? (não, isto não se passa apenas na India). São escravos, que trocam o seu corpo, o seu tempo, a sua liberdade (fisica, espiritual, intelectual) por um naco de pão ou uma tijela de sopa.

Alguns não quererão mais do que isso: uma tijela de sopa e um naco de pão.Mas, parece-me que a esmagadora maioria dos escravos, de hoje e de sempre, não o são por vontade própria mas por falta de oportunidade de serem eles os escravizadores (sim,também existe essa opção na condição humana). Contudo, se não existisse a hipótese de se ser escravizador, não existiriam escravos, e vice versa.Esse seria o mundo ideal. Utópico, naturalmente. Mas como não consigo mudar o mundo, pelo menos deixem-me pensar idilicamente no mundo que eu gostaria que existisse.

Se, entretanto, conseguir alertar potenciais escravos para os perigos que correm, já não é mau. Mas aceito quem não veja as coisas nesta perspectiva, por ventura, redundante e tacanha, ou idílica e utópica. Faz parte da nossa liberdade de pensamento (pelo menos que nos fique essa).

In: Resposta a uma discussão num fórum do The Star Tracker.