segunda-feira, 23 de março de 2009

"...NÃO VOU POR AÍ!"

Tenho de agradecer a um amigo por ter-me lembrado de um poema de José Régio numa extraordinária e emocional interpretação de João Villaret.
(para quem tiver interesse em ouvir, este é o endereço: http://www.youtube.com/watch?v=OexuXLZcHkY)
Lembro-me de ser criança de tenra idade, uns quatro ou cinco anos, e ouvir este poema e esta interpretação e pensar, ainda sem sequer entender o mínimo significado do mesmo, como gostaria de um dia escrever e declamar algo que se assemelhasse a este padrão.
Não sou assim tão iluminado que me possa sequer colocar em comparação com tamanhos génios que foram José Régios na criação da palavra ou João Villaret na sua interpretação. Mas as palavras e a força da sua interpretação sinto-as como se fossem minhas. Sinto-as como se saissem das minhas entranhas. Sinto-as como se fossem o único significado que tenho da minha existência.
Daí este meu espírito rebelde, mesmo apesar dos cinquentas, que não se conforma com "politicamente corretos", com "padronizações" comportamentais, com "seguidismos" cegos, com "antes a favor do que contra", e que me atormenta a cada momento que vejo injúrias ao ser humano, ofensas ao cidadão, roubos ao contribuinte, e outras afrontas que me deixam de "tripas voltadas".
Por isso, também eu digo: "...não vou por aí!"

terça-feira, 17 de março de 2009

A DEFINITIVA MUDANÇA DE PARADIGMA

A época de “um emprego para a vida” já há muito que terminou.
Hoje, o conceito de emprego está a tornar-se vago e ausente, especialmente no sector privado.
A actual crise económica, derivada da crise financeira global, está a acelerar o processo de transformação do velho paradigma num novo paradigma.
Os indivíduos terão de procurar “trabalho” em vez de “emprego”.
Esta mudança faz lembrar historicamente outros tempos em que na província o trabalho agrícola era dado numa base semanal, de acordo com a sazonalidade e com a necessidade de quem estava do lado da oferta de trabalho.
Talvez não voltemos a esses tempos porque o grosso da actividade económica dos tempos de hoje não têm as variações provocadas pela sazonalidade nem o volume de oferta de trabalho varia de forma tão rápida, à excepção de sectores como o turismo, mas que também agora já sofrem das mesmas causas.
Contudo, para muitas profissões especializadas, como já acontece com os contabilistas, não existirão muitas ofertas de um emprego mas mais ofertas de trabalho. Isto quer dizer, que estes profissionais, irão desempenhar a sua actividade profissional em mais do que uma empresa, possivelmente num número suficiente para ocupar todos os seus dias da semana ou do mês.
Deixarão de ser empregados, passando a ser assessores ou consultores executivos nas empresas, desempenhando a sua especialidade.
Imagine-se para o efeito alguém com formação superior em gestão de recursos humanos, uma das áreas em que as micro e pequenas empresas mais deficitárias estão em termos de recursos próprios, mas que por manifesta falta de suficiente necessidade individual de cada empresa, terá de prestar os seus serviços a várias delas, num regime de avença ou de tarefa.
Assim, para especialistas em áreas do conhecimento, com ou sem necessidade de carteira profissional, a solução não será encontrar um emprego numa dada empresa mas antes procurar empresas que necessitem dos seus serviços, e a quem os prestarão apenas na medida das suas estritas necessidades.
Iremos, dentro de um curto espaço de tempo, ver muitos profissionais em direito, gestão, engenharias, ciências humanas e outras semelhantes a trabalharem como assessores/consultores de empresas e não como empregados das mesmas.
Esta nova realidade vai exigir de cada um destes profissionais um novo esforço. Para se manterem competitivos e justificarem o seu valor terão necessariamente de manter e desenvolver competências, novas e diferenciadas dos demais concorrentes, de maneira a manterem a sua capacidade de angariação e manutenção de trabalho.
Esta situação já é uma realidade para algumas profissões em vários locais no globo.
Temos de nos preparar para a massificação da ideia, ou corremos o risco de perder a relevância e o valor individual para a sociedade.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O REGRESSO DA ESCRAVIDÃO

No telejornal da SIC apresentou-se hoje (2008-03-04) uma peça que retractava o estado dos desempregados em Portugal.
Só vendo, porque nunca conseguirei transmitir o que senti depois deste documentário.
Ao ver a peça que apresentava um conjunto de pessoas que mal conseguem viver e que não conseguem encontrar trabalho, consegui imaginar a satisfação que estes factos podem dar a um conjunto de indivíduos que no conforto dos seus espaços estravagantemente decorados observaram o mesmo com um profundo sorriso, apesar das perdas que a crise financeira lhes acabou de infringir nos últimos tempos.
Continuo a questionar-me a mim próprio como é que as “pessoas” (de bem e inteligentes) não percebem o que se está a passar à nossa volta.
Voltamos ao tempo da escravatura.
Quando um licenciado tem de trabalhar por setecentos euros mensais, para não falar do salário dos menos qualificados, estamos na presença de uma desgraça anunciada.
O facto é que quem paga setecentos euros a um jovem licenciado no seu primeiro emprego está apenas a satisfazer a “fome” interminável que os “senhores do mundo” têm pelo trabalho de escravo. E nunca a situação foi tão propícia a que tal se venha a tornar no padrão geral.
A crise veio financeira, que ainda não bateu no fundo, que provocou a crise económica que já vivemos, não fez mais do que reduzir o “valor” que cada um de nós possuía uns tempos atrás.
Vejamos de forma simples. Para um trabalhador normal que pagava o empréstimo da sua casa, do seu carro, de alguns electrodomésticos e ainda chegava para educar um ou dois filhos, a crise veio acabar com todo esse sonho. Perdeu, ou há-de perder, tudo aquilo para que lutou e deu o seu suor. Mas para quem tinha biliões a crise não foi, aparentemente, menos simpática. Hoje vê a sua fortuna reduzida a menos de metade.
Aqui é que reside a questão. O pobre perdeu, ou há-de perder tudo. O extremamente rico perdeu metade, sendo que a metade que ainda retém é algo que o pobre nunca conseguiria pensar em vir a possuir. Mais, na comparação relativa, a diferença agora é muito maior, porque qualquer coisa comparada com “nada” é sempre muito mais favorável.
Isto quer dizer que os ricos ficaram mais ricos e os pobres, e a classe média, ficaram agora pura e simplesmente miseráveis.
Mas pior que tudo, o que possui o capital agora está em condição de discutir o “preço” do miserável.
Esta clarividência surgiu-me na minha primeira viagem à Índia. Alguém me disse que tinha sete empregados e que só num país como a Índia isto era possível. Para além do tremendo respeito que fiquei a ter pela riquíssima cultura que a Índia possui como a mais antiga civilização do mundo, fiquei também a compreender ao que o desenvolvimento da sociedade e “civilização” pode levar: à criação de “castas” humanas.
Será que ninguém ainda percebeu que isto é apenas uma manobra de diversão?!
Estão a tornar-nos em escravos.
O próximo passo é termos um Chip nas costas para que, alegadamente, estejamos protegidos dos bandidos, ou dos extra-terrestres, porque esta também poderá ser uma boa razão para aumentar o nosso grau de escravidão.

Felizes dos ignorantes…

domingo, 1 de março de 2009

Centro Comerciais vazios

Um artigo da Lusa que encontrei num fórum de uma rede social na internet, relata que existem em Portugal um enorme conjunto de Centros Comerciais, maiores ou mais pequenos, que estão parcial ou totalmente abandonados, sendo que a sua distribuição se verifica por todo o País.
O jornalista, que se limita a dar os factos, retrata a realidade de um sistema económico falhado, desde que Guterres entrou para o governo (nota: não estou a defender nenhum outro sistema, estou só a analisar o que se passou depois de 1995).
O nosso crescimento assentou acima de tudo e desde então no aumento do consumo interno. Esta política levou a que o nosso défice externo passasse de 11% do PIB de 1995 para mais de 90% do mesmo PIB em 2008.
Andámos a pedir emprestado lá fora para consumir cá dentro, comprando o que os outros produziram, isto é, pedimos-lhe dinheiro para lhe comprar bens.
O que fizemos cá dentro foi construir habitações e outras construções (como centros comerciais), que vendemos a preços especulativos e que agora valem muito menos do que seria de esperar.
Agora, esses Centros Comerciais estão vazios porque não existe compradores. Mas será que deixamos de ter dinheiro? Claramente, deixamos de depender do nosso próprio dinheiro. Quem produzia valor deixou de o fazer, sendo que os centros produtivos passaram e continuam a passar progressivamente para a China e Índia, sem que sejam substituídos por outros que produzam produtos de mais valor acrescentado, o que levou a que a criação de riqueza real diminuísse consideravelmente, passando-se a viver da riqueza criada de forma especulativa como produtos financeiros e imobiliário.
Agora, não produzimos suficiente valor que seja suficiente para comprar ao exterior o que precisamos para vivermos.
Qual é a solução? Apenas uma: deixarmos de consumir. Isto implica voltarmos a contar as “patacas”, a viver com muito menos condições e a reduzir a nossa qualidade de vida.
Preparemo-nos para o pior, que esse ainda não chegou.
Mas preparemo-nos acima de tudo para dar a luta. Ou voltamos a produzir e a criar valor ou desaparecemos, porque agora não temos nada onde nos agarrar, como o comércio com a Índia, o ouro do Brasil, os diamantes e outras receitas de África e os subsídios da U.E.
O tempo começa a ficar curto. O pior é que parece que os nossos governantes ainda não deram por isto.