É frequente ouvirmos dizer que os nossos empresários não
têm estratégias para as suas empresas. Os sucessivos governos têm vindo a
afirmar que tal lacuna leva a que muitas empresas que poderiam ser viáveis,
devido à falta de uma visão estratégica da parte de quem dirige as empresas, se
tornam inviáveis em função de qualquer mudança do ambiente interno e ou externo
dos mercados em que estão inseridas. De facto, muitos dos nossos empresários
criaram os seus negócios porque aproveitaram uma janela de oportunidade que num
determinado momento se lhes abriu, nunca percebendo porque estavam naquele
negócio, que tendências poderia vir o mesmo a desenvolver no futuro e o que fazer para contrariar
movimentos negativos e antagónicos aos seus interesses. Infelizmente é esta a
realidade de uma parte alargada do nosso tecido empresarial. Por mais dinheiro
que se injecte nessas empresas para a aquisição de equipamentos, melhoria das
condições de trabalho, aumento da produtividade e formação do seu pessoal
produtivo, seja essa injecção de capital feita através dos fundos comunitários
ou dos próprios accionistas, essas empresas nunca terão um futuro a longo
prazo. Todas as suas acções são viradas para o presente, para a conjuntura do
momento, para o sobreviver hoje e amanhã logo se verá quem nos poderá acudir.
O esforço tem de ser feito ao nível da gestão de topo das
empresas. Os accionistas, os administradores, os directores gerais, os gerentes
tem de compreender que as suas empresas são aquilo que eles querem que elas
sejam. E se eles próprios não sabem o que querem, porque não compreendem o
mercado, o negócio, os clientes, os colaboradores, os fornecedores, etc., as
suas empresas não podem sobreviver a longo prazo.
Atrevo-me a dizer que apesar dos muitos processo de
certificação da qualidade existentes, a esmagadora maioria dos nossos gestores
não conseguirão definir a missão das suas empresas numa simples frase que
contenha a essência do seu negócio. E não o fazem porque não o sabem?! Não, não
o fazem porque não compreendem o seu negócio.
Compreender o negócio implica perceber os nossos
produtos, os nossos clientes, os nossos mercados, os nossos fornecedores, os
nossos colaboradores, os nossos concorrentes, as políticas governamentais que
nos possam afectar, etc. Quem não perceber isto não pode definir uma estratégia
acertada para a sua empresa, pelo menos a médio e longo prazo. A gestão
estratégica não é um acto intuitivo. É, pelo contrário, um acto que deve ser pensado,
ponderado e compreendido pelo próprio que o inicia.
A abertura do mercado, com a nossa entrada para a
comunidade europeia, veio mostrar o quanto os nossos empresários estavam e
ainda estão mal preparados para assumir posições estratégicas. Nem a almofada
dos subsídios, que apenas encobriu o problema durante vários anos, conseguiu
impedir que hoje estejam como estão. É um desnorte total. Estamos sempre à
espera do milagre, da boa vontade dos nosso clientes estrangeiros, das ajudas
do estado, das leis que nos protejam, etc. Mas não sabemos assumir, por nossa
própria vontade, a responsabilidade de traçar o nosso próprio destino. Porque
não sabemos o que fazer, como o fazer, porque o fazer, quando o fazer e com
quem o fazer.
A maior cegueira não é daqueles que não vêem, mas sim
daqueles que não querem ver. E este é apenas mais um defeito que nos
caracteriza. Não queremos ver que não sabemos e, como tal, não queremos
aprender. Enquanto esta mentalidade não mudar ou enquanto não mudarem as
pessoas e venham novas com esta mentalidade, estamos destinados a ver negócios
a abrir e a fechar, com enormes prejuízos para a sociedade e para o país.