sexta-feira, 16 de abril de 2010

O CERCO APERTA-SE

Ontem, o Presidente da Republica Checa, durante a visita do nosso Presidente da República aquele país, fora do que seria o normal protocolo nestas situações, fez uma clara crítica ao defit português.

Este comentário, directo e objectivo, pode ser interpretado de várias formas, entre elas a de que os países mais pequenos da Europa Comunitária não estão para pagar a crise dos outros, especialmente daqueles que não se sabem governar.

A Republica Checa está fora da zona Euro, pelo que não sofreu com a impossibilidade de alterar a sua taxa de câmbio como nós.

Mas o problema não está apenas na taxa de câmbio que nós não temos por pertencer à moeda única.

O problema está na despesa pública, na falta de produtividade da nossa economia por força de existência de uma grande percentagem de postos de trabalho que não acrescentam valor à economia, mais especificamente administração central e função pública, no continuado endividamento do país para comprar tudo o que necessita no exterior, desde a energia até à alimentação, nos hábitos consumistas de uma população que não cria valor suficiente para tal, e na falta de recursos, não os naturais porque disso não temos culpa mas dos humanos porque não temos um sistema de ensino e de formação profissional que crie competências técnicas e atitude para com o trabalho e a criação de riqueza.

Este comentário do Presidente Checo vem de encontro a um artigo de Simon Johnson, numa análise realizada para o jornal norte-americano 'New York Times', intitulada "O próximo problema global: Portugal", em que o economista anuncia Portugal como muito próximo da bancarrota, devido à incapacidade dos nossos governantes em perceber a verdadeira dimensão do problema e em atacar o problema da forma correcta – cortar forte e feio na despesa do Estado.

O nosso país tem menos de 50% de população activa, sendo que desempregados, reformados, jovens e outros sem emprego já são a maioria. Dos que trabalham, apenas cerca de 70% acrescentam valor, sendo os restantes funcionários públicos ou similares, não acrescentando directa ou indirectamente qualquer valor à economia.

Isto quer dizer que não ganhamos para o que consumimos. Daí a necessidade de nos termos vindo a endividar nas últimas duas décadas de forma avassaladora para satisfazer as necessidades de consumo de uma população inteira.

Todos sabemos que este esquema não é nem nunca poderá ser sustentável a longo prazo, pela simples razão de que um dia o crédito acaba-se. Acontece isso às famílias, também pode acontecer aos países.

O mais preocupante é que apesar de todos estes sinais de alarme, internos e externos, continuamos com as mesmas políticas.

Assim, o nosso futuro só pode correr mal.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

NO PAÍS DA SUCATA

O “Caso da Sucata” surgiu como mais uma de entre muitas e comuns manobras de influência em Portugal (vulgo “cunhas” pagas a bom preço).

Não fosse o caso de estar envolvido alguém que já no passado tinha tido algumas indicações de comportamentos alegadamente menos correctos e de esse alguém ainda ser amigo íntimo do actual PM, individualidade que tem sido mencionada também ela alegadamente envolvida em casos que deixam algumas dúvidas quanto à sua clareza e legalidade, e o caso da “sucata” não teria dado em nada, ou apenas algumas chatices a um dado senhor que também alegadamente terá enriquecido à custa de expedientes menos legais.

Porém, e mesmo sem que as escutas tenham sido utilizadas para o propósito, são os despachos das entidades judiciárias que acabam por evidenciar algo bem mais ilegal do que os favores económicos ou de influência.

A tentativa de domínio de um órgão de comunicação social por parte de quem desempenha um alto cargo público, eleito politicamente, é por demais um abuso da honra e dignidade de um povo.

Se um determinado empresário combina manobras de bastidores para conseguir a compra de uma dada empresa, cotada ou não em bolsa, se o mesmo empresário tenta fundir uma sua empresa com outra que é parcialmente detida pelo Estado e o resto por privados, ou ainda se lança uma OPA sobre uma empresa pública ou privada, poderemos criticar a sua ética, a sua forma de actuar, a sua transparência nos negócios, mas não o podemos incriminar de nos ter traído.

Porém, quando um alto dignitário político, eleito pelo Povo, dentro de um sistema democrático, abusa da sua condição de representante desse mesmo povo, ou de parte do dito, e tenta tirar partido da sua posição para seu próprio proveito, com base no poder que o seu cargo politico lhe aufere, então teremos um grave problema de credibilidade, de honorabilidade e de ética.

Quando assim é, quando se vê nos “media” constantes alusões a abusos de poder, a manobras sancionárias de comportamentos contrários ao “regime”, a censuras veladas sobre determinadas informações e se nota uma clara atitude de manobra da informação, então teremos de nos questionar onde estão os valores que se conquistaram há mais de trinta anos com a mudança de “regime”?

As memorias são curtas e a história repete-se, infelizmente, muito mais amiúde do que alguns de nós gostaríamos de ver, e de sentir!

Da parte que me toca, as esperanças são cada vez mais limitadas.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PRODUTIVIDADE – uma medida.

A questão da produtividade continua a ser recorrente num contexto de crise económica e financeira que penaliza a economia dos países menos competitivos. Convém, assim, perceber este fenómeno.

Em termos micro, ou seja ao nível das empresas, a produtividade, de acordo com diferentes autores, é medida de várias formas, como pelas equações: “proveitos” sobre “custos”; “volume de vendas” sobre “número de RH” e “valor acrescentado bruto” (VAB) sobre “número de RH”, entre outras.

A primeira dá-nos a relação directa entre outputs e inputs, ou seja, o rácio de “valor” criado ou acrescentado por unidade monetária, gerado pela actividade produtiva, a segunda equação dá-nos o volume de vendas per capita e a terceira o valor acrescentado per capita.

Todos estes rácios são afectados por factores como:

- sistema organizacional e de gestão, nomeadamente na definição dos processos produtivos e de suporte da cadeia de valor da organização;

- competências humanas, relacionadas com os conhecimentos e experiência que cada trabalhador detém relacionados com as suas tarefas e funções, tanto nas actividade produtivas como de suporte da cadeia de valor;

- capacidade de produção dos equipamentos, especialmente nas áreas produtiva e da logística em que a tecnologia desempenha especial papel;

- capacidade de análise e transmissão da informação, nomeadamente na componentes hard e soft dos sistemas TIC ;

- rendimento das matérias primas, principalmente a qualidade das mesmas e a sua adequação ao propósito;

- externalidade, nomeadamente as leis laborais e outras bem como o contexto socioeconómico, que afectam o rendimento dos recursos utilizados, sejam eles humanos ou materiais.

Em termos macro, ou seja ao nível do país, a produtividade costuma ser medida de várias formas, conforme os autores: “produto interno bruto” sobre “população total” ou “população activa” e “valor acrescentado total” sobre “população total” ou “população activa”, entre outras.

A primeira formula dá-nos o rácio de valor acrescentado per capita total ou activo e o segundo o valor produzido per capita total ou activo.

Estes rácios são afectados por factores como:

- produto interno bruto, medido pelo total da produção de valor que o país atinge, que depende da capacidade produtiva e de criação de valor do tecido empresarial privado e público;

- valor acrescentado total, ou seja a capacidade da economia em criar ou acrescentar valor, nomeadamente pelo tecido empresarial privado e público;

- total da população existente, sendo que toda a população é considerada para efeito da determinação do rácio, independentemente da sua condição produtiva;

- total da população activa existente, em que apenas a população activa ou em condições de actividade, entenda-se desempregados em idade activa, são considerados para efeitos do rácio, sendo que desta população activa consta toda aquela que desenvolve actividade, seja ela considerada ou não como criadora de valor;

Como podemos facilmente depreender, a economia de um país depende do tecido empresarial, público e privado, expresso na sua capacidade de criar e acrescentar valor, e da governação do mesmo país no desenvolvimento de politicas que diminuam os efeitos negativos das externalidades (ambiente externo às empresa que é o mesmo que o ambiente interno do país), do peso da máquina do Estado bem como da sua capacidade na criação de politicas a acções externas, comerciais e outras, que facilitem o desenvolvimento da economia interna.

Com base nestes princípios, não será difícil, tanto a nível micro como macro, desenvolver as políticas mais adequadas e os necessários planos de acção para que a produtividade, micro e macro, possa subir.

Então, porque continuamos a ser um dos piores países da Europa no que se refere a produtividade?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

OS NOVOS ROMANOS

Passei por Roma num destes dias. Roma, sob o aspecto humano, continua como há 2000 mil anos.

A diferença está só nos adereços. As pessoas podem ser outras, mas continuam a ser Romanos. Os novos Senadores, Centuriões e outros proeminentes elementos do Estado estão bem presentes em qualquer sítio. Os Artífices são hoje homens de negócio, donos de empresas ou gestores de topo. Os escravos são os trabalhadores nas fábricas, nos quiosques, nos restaurantes e cafés e nos escritórios. Até o gladiador está bem presente no desporto e nas actividades afins. Roma continua viva!

Não fosse a electricidade e as vestes de hoje, e estaríamos a viver dois mil anos atrás. É impressionante como estas figuras estão tão presentes para o observador atento que se senta na esplanada do café ou na sala de um restaurante, enquanto degusta um “expresso curto” ou uma “pizza margaritta”.

Os actores são outros. O cenário é mais moderno. Os sistema está ajustado. Mas o enredo é o mesmo! Pouco mudou!

Se encontrasse César num parada de rua, na sua quadrilha dourada e escoltado pela centúria não ficaria nada surpreendido. Dois mil anos não chegaram para fazer um “homem novo”.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SANTOS DA CASA NÃO FAZEM MILAGRES

Um dos artigos publicados neste  blog, (Visão Mortífera, Maio 2009) foi retirado de um “paper” que foi enviado na sua forma completa em simultâneo para duas conferências internacionais, uma a acontecer em Portugal (Gaia) e outra na Austrália (Melbourne), ambas ainda este ano.

Não fazendo eu parte da “academia”, enviar comunicações para conferências internacionais  que são organizadas por universidades é um desafio arrojado, que tem à partida o “não” como quase certo.

A comunicação, como se poderá ver pelo artigo deste blog, não segue exactamente o modelo da academia. Nem foi essa a minha preocupação.

Pretendi apresentar na comunicação que existe uma potencial relação entre a evolução tecnológica e o “valor” criado pela actividade humana e as consequências que as diferentes possíveis combinações resultantes dessa relação podem significar para a sociedade e a economia mundial.

Não estando muito preocupado com a forma, preocupei-me mais com o conteúdo, até porque é esse que poderá interferir nas nossas vidas.

O mesmo “paper” foi enviado exactamente igual para ambas as conferências, na expectativa de que se fosse aprovada para uma das conferências teria de prescindir da outra por questões de direitos de publicação, mas acabei por não necessitar de ter de utilizar este expediente.

Dos júris de ambas as conferências recebi comentários sobre a forma, o que para mim não foi surpresa, na medida em que sabia claramente que tendo preferido adaptar o conteúdo da comunicação ao limite de páginas de texto aceites em vez de utilizar o mesmo espaço para seguir as regras respeitantes à produção de comunicações, os comentários seriam mais do que esperados.

Assim, com base nessa avaliação, o júri da conferência em Portugal acabou por não aceitar a minha comunicação. Quanto ao conteúdo nada disse nem referiu.

Contudo, o júri da conferência na Austrália, mesmo considerando que a “forma” não estando correcta poderia ser corrigida, com base no conteúdo, aceitou a comunicação para ser apresentada na dita conferência, com o seguinte comentários: This is because the questions raised in this paper have far reaching implications for a variety of disciplines, and it takes a lot of courage to attempt what you have done.”

Assim, irei apresentar a referida comunicação na Austrália em vez de o fazer no meu país.

E mais comentários não faço.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A LIBERDADE DE IMPRENSA NA TVI.

Num outro forum, alguém perguntou:

“Será que alguém se importa com a saída da Manuela Moura Guedes? E fará falta ao panorama informativo nacional?”

Como telespectador vejo as notícias da SIC notícias e CNN (pouco mais). Outros programas que possa ocasionalmente ver serão alguns específicos da RTP2 e dos canais temático da TVCABO (que agora se chama ZON, não é?)

Por este perfil, poder-se-á ver que não sou adepto da TVI, nem no tempo do BigBrother nem do Marcelo, que continuo a não ver na RTP1, nem de outros "astros" do universo mediático que passam pelas televisões (nem via o Santana contra o Sócrates na RTP1, por achar que eram demasiado ocos e facciosos nas suas visões e comentários).

Depois, já tenho idade e experiência de vida suficientes para estar muito acima da mediocridade da política portuguesa (desculpe-se a minha potencial arrogância) pelo que sou perfeitamente livre para ver o que se faz e se diz e qual o seu significado e quais as patranhas que se engendram por detrás de falinhas mansas e da hipocrisia intolerável que caracteriza o nosso panorama político. Sem necessidade de me justificar, ainda digo que expresso as minhas opiniões sobre qualquer dirigente político (como já o fiz directamente à Manuela Ferreira Leite em devido forum, o farei a Sócrates se tiver essa oportunidade ou a outro qualquer). Finalmente, nem costumo votar se não encontrar afinidade com algum programa político. Dito isto, aqui vai:

A forma de fazer jornalismo da Manuela Moura Guedes é efectivamente pouco "comestível". A sua saída não deixará pena, pelo menos a mim. Haverá outros que poderiam aproveitar a ocasião e ir também embora.

A Manuela é uma "jovem" das minhas idades e o que mais lamento é que a doce recordação de uma canção que a celebrizou há cerca de trinta anos seja deixada para segundo plano porque o que iremos lembrar é uma MMG transformada sob muitos aspectos. Lá se foi a doce imagem da juventude.

Mas o que a Manuela fez, na sua luta contra Sócrates, fará falta?

aí temos outra questão, que não foi colocada inicialmente, mas que eu me atrevo a fazer agora.

Aqui tenho as minhas dúvidas se não corremos o risco de perdermos uma voz, nem sempre certa e da forma correcta, que aproveitava o facto de haver "liberdade" para se fazer notar e para trazer a público assuntos que podem ser do interesse da sociedade.

E aqui vem à baila a questão da "liberdade".

Sabemos que ultimamente têm vindo a terreiro várias denúncias de tentativa de interferência na liberdade de expressão e de decisão de algumas pessoas.

Alguns directores de informação (inquestionáveis na sua honestidade) foram pressionados para ignorar o caso da Universidade Independente e do diploma de Sócrates. Alguém se atreve a desmentir? parece que não!

Algumas empresas (os jornais fizeram eco de vários casos nos últimos dias) dizem que sofreram pressões políticas para se manterem dentro de uma certa linha ou perderiam oportunidades de negócio. Mentirosos? duvido!

Sabemos que a MMG andava numa guerra declarada contra Sócrates, depois do episódio deste a alcunhar de "jornalista travestida".

Sabemos que, independentemente dos culpados, existe muito para explicar sobre o Freeport, o projecto da Cova da Beira e diplomas de curso passados ao domingo, bem como das pressões políticas sobre a sociedade.

E agora, de forma perfeitamente independente, a quem convém mais a saída da MMG?

Claramente a Sócrates.

Acaba-se com uma voz discordante que iria fazer tudo para o deitar abaixo até às eleições e aproveita para culpar a oposição de que estão a fazer aproveitamento politico do facto, ao qual pretende ser alheio, e assim se tornar em vítima. Ficará visto como o pobre "coitado" (outro Zé Maria do BigBrother) que o nosso povo tanto gosta de defender.

O que ganha a oposição? Nada!

Primeiro perde MMG e o seu combate contra um inimigo comum.

Depois vê-se acusada de se estar a aproveitar do evento.

Terceiro, se refilar muito, porque também tem telhados de vidro (histórias do passado menos bem contadas), acabará por ser acusada de hipocrisia e de falsidade e desonestidade política.

Claro que nem todos conseguem ver desta forma (alguns não querem ver por várias razões, por beneficiarem do acontecimento ou por medo de o dizerem)

A mim já me mandaram ficar "calado..." duas vezes. nem por isso vou deixar de dizer o que penso. No dia que tiver de ficar calado, se ainda for a tempo, saio do país para sempre. Já não tenho idade para aturar mentiras.

Pensem por vós próprios, sem pressões, e decidam por vós. Quem viveu o 25 de Abril compreenderá o que quero dizer. Os outros terão de acreditar que só com suficiente liberdade intelectual e emocional conseguiremos compreender as "mentiras" que nos querem impingir a todo o momento.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Separar as águas

Tenho utilizado este blog para expor muitas das minhas opiniões sobre vários temas, com carácter político, económico e técnico.
Contudo, e com o objectivo de separar as águas, criei um novo blog, "É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!", em http://eaeconomiaestupido.blogspot.com , que tem como objectivo fazer a relação entre política e economia.
Dois temas já foram abordados:
 TGV vs AEROPORTO
 A  SEGURANÇA E A ECONOMIA

Neste blog continuarei a publicar artigos essencialmente técnicos dentro das minhas áreas de especialização e sobre assuntos da sociedade que possam merecer a atenção.

Fica o meu agradecimento para quem vai lendo as minhas palavras.
TF