quinta-feira, 14 de maio de 2009

PORQUE É QUE EU ESTOU PREOCUPADO?!

A minha preocupação assenta numa razão muito simples.
Vejamos rapidamente a forma como tem evoluído a sociedade nos últimos anos e como potencialmente poderá evoluir nas próximas décadas.

Até à revolução industrial, a maioria da população vivia da agricultura.
Com a máquina a vapor, o motor de explosão, a electricidade e a maquinação maciça que a revolução industrial nos trouxe, os trabalhadores agrícolas deslocaram-se para as cidades e passaram a trabalhar na indústria.
Nas últimas décadas, os serviços tem vindo a ocupar um maior número da população activa, com forte participação dos Estados Ocidentais na criação de uma máquina administrativa mais complexa e exigente.
De uma forma geral, teremos (não estou agora preocupado com os dados estatísticos correctos) cerca de um décimo da população activa na agricultura, metade dessa mesma população na indústria e a restante população activa nos serviços e administração pública.
A tendência é que estes valores se venham a alterar a curto prazo, com o progressivo desaparecimento da indústria (consequência da deslocação da indústria ocidental para países de mão de obra barata) e a sua substituição por serviços que incluam produtos, potencialmente de maior valor acrescentado, bem como serviços financeiros.
Este tem sido ou foi o paradigma aceite como a causa e a própria solução para os efeitos da globalização e da generalização dos princípios capitalistas por outras culturas.

Ora este paradigma coloca-nos uma questão. Onde se cria o valor necessário para criar riqueza? Muitos dos serviços não criam valor directo que permita a acumulação de riqueza a curto prazo, como por exemplo a educação. Outros serviços, como a construção, estão limitados ao valor especulativo dos mercados e não transaccionáveis para o exterior dos países. A hospitalidade não é uma actividade de mão-de-obra assim tão intensiva que absorva toda aquela que vai sendo liberdade pela indústria, apesar ainda assim de ser uma forma de obtenção de divisas externas. A maioria dos serviços públicos não cria nenhum valor acrescentado. Sabemos que é a indústria que produz “bens transaccionáveis” que podem ser exportados e, dessa forma, obter divisas para os países. Umas mais, outras menos, mas são as actividades industriais que acrescentam valor a uma qualquer matéria-prima ou a subproduto. Para além disso, a industria é cada vez mais robotizada, por via da conjugação da maquinação e das tecnologias de informação, necessitando de muito menos de mão-de-obra directa do que no passado. A própria indústria produtora das máquinas robotizadas é pouco utilizadora de mão-de-obra intensiva mas mais de capital intelectual e criativo.

Se a tendência é a que o peso da indústria, tanto nas balanças de pagamentos das economias ocidentais como na utilização de mão-de-obra seja cada vez menor, que o peso da agricultura se mantenha sem alterações demasiado visíveis, a não ser também a progressiva utilização de menos mão-de-obra por via da progressiva robotização da mesma, e a que por força da necessidade de utilização de cada vez menos recursos nos próprios serviços, onde é que vamos colocar toda a mão-de-obra excedentária que numa ou duas dezenas de anos iremos passar a ter de forma massiva, sendo que algum desse excesso já se verifica nalgumas bolsas regionais ou sectoriais.

Portugal não foi excepção neste descalabro macro estratégico. Deixamo-nos envolver no crescimento com base no consumo, suportado pelo financiamento externo, aumentando em duas décadas tremendamente a dívida externa de menos de dez para os actuais perto dos noventa porcento do PIB. Deixamos fugir a pouca indústria semi-pesada (nunca chegou a ser verdadeiramente pesada) e a de mão-de-obra intensiva que tínhamos para os países do oriente por força do custo da nossa mão-de-obra produtiva. Não substituímos essa mão-de-obra por outra extremamente especializada que pudesse funcionar como alternativa. Não soubemos criar serviços de elevado valor acrescentado, excepto nalgumas áreas da hospitalidade, mas ainda assim numa quantidade demasiado reduzida que possa ser tida como verdadeira substituição para a descida verificada na indústria. Não soubemos educar as novas gerações, criando-lhe competências suficientes para massivamente se envolverem na nova indústria da robotização das indústrias tradicionais, da agricultura e até de alguns tipos de serviço.

Sabemos que as pessoas têm de ter ocupação bem como necessitam de ter rendimento. Faltando a primeira por via da transformação do paradigma que ilustramos atrás, teremos forçosamente de suportar o segundo. Ora o rendimento da população não produtiva, como desempregados e reformados, é suportado pelos impostos da população activa. Se a relação entre a primeira e a segunda está cada vez mais desproporcional, isto é, há cada vez mais população dependente e menos população produtora de valor acrescentado, como vamos sustentar este balanço negativo?

Esta é a minha preocupação. Primeiro porque parece-me que os economistas ainda não quiseram perceber ao que esta situação nos pode levar e segundo porque os políticos não têm solução para o problema. Penso até que muitos deles nem chegam a perceber a existência do problema quanto mais saber como o resolver.

A degradação progressiva no balanço das actividades criadoras de valor vai-nos levar inevitavelmente para graves problemas económicos e, consequentemente, sociais.
A perturbação social já se iniciou nalguns nichos da nossa sociedade. O alastramento a uma grande maioria da população que deverá acontecer quando o Estado deixar de ter crédito para alimentar a máquina subsidiária dos que vão perdendo os seus empregos, o que estará para breve, vai-nos afectar sobremaneira.

Em breve veremos os estados ocidentais a promoverem, sabe-se lá de que forma, a saída ou eliminação de parte das suas populações. Temos gente a mais dependendo de tão poucos a criarem valor. E está provado que a estratégia de aumento da população dos países ocidentais por via da imigração vai piorar a situação, porque esta agora não vêm para produzir mas antes para ser sustentada.

Aproximam-se tempos conturbados, de grandes mudanças, que esperemos que não sejam tão dramáticos como se pode antever quando se elabora um raciocínio lógico. Resta-nos esperar, mas com grandes preocupações.

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