Para onde quer que nos voltemos, ouvimos falar de
comunicação e de informação.
A grande maioria dos nossos problemas surgem porque não
temos a informação suficiente ou porque a comunicação foi deficiente, as
pessoas não se entendem porque não comunicam devidamente, nunca temos à mão
suficiente informação para tomar uma decisão tranquilamente, e por aí adiante.
Numa era dita de informação, esta prolifera como erva
daninha à nossa volta. Temos jornais e revistas, rádio e televisão, programas
de “talkback” e noticiários contínuos, nacionais e internacionais, intranet e
Internet, livros e cd’s ou DVD’s, com muita e variada informação que nos sufoca
e confunde.
Então começamos a seleccionar o que lemos, o que ouvimos
e o vimos. Do jornal diário ou semanário apenas lemos os títulos dos artigos,
da rádio apenas ouvimos as breves, da televisão tiramos as notícias breves que
ainda não conhecemos, fazendo zapping entre dois ou três canais. Não temos
tempo para aprofundar esta ou aquela notícia, este ou aquele assunto em debate,
esta ou outra teoria sobre qualquer tema que possa ser de interesse para nós.
Passamos a emitir opiniões sobre coisas e assuntos apenas
dispondo de um pequeníssima quantidade de informação, cometendo erros de
apreciação e de opinião. Pensamos estar informados e elucidados e não
reconhecemos o nosso desconhecimento.
Esta condição torna-nos vulneráveis a ataques daqueles
que poderão, pelas mais variadas razões, querer manipular-nos. E não se pense
que isto é apenas mais uma teoria da desgraça. Esta é uma realidade que nos
rodeia e que é bem visível para todos os que, por conhecimento de causa ou por
interesse académico, analisam tudo o que os circunda.
Os “media” são um desses exemplos claros e inequívocos.
Dizem-nos e mostram-nos o que lhes interessa e da forma que mais lhes convêm.
Vejamos dois exemplos que ilustram esta realidade.
Num determinado canal de televisão, no último trimestre
de 2001, num programa sobre os sem abrigo, o locutor ilustrou o esforço do
governo no sentido de acabar com as barracas com o seguinte comentário: “o
número de barracas desceu 20% desde 92, sendo agora apenas de 12000 o número de
barracas actualmente existentes”. Se olharmos para os valores absolutos que se
podem retirar desta informação, podemos compreender que o número de barracas
desceu de 15 para 12 mil em 10 anos. Mas se deixarmos a nossa mente absorver a
informação de uma forma emocional não controlada, somos induzidos a assimilar
que “…apenas existem 12000 barracas…” e que o esforço foi enorme para se atingir
tão reduzido número.
Um jornal desportivo anunciou num certo domingo a derrota
em casa por 3-0 de um dos grandes contra uma das equipas revelação do ano,
dedicando-lhe em primeira página um espaço de 10x10 centímetros
aproximadamente, no canto inferior direito, dedicando o resto da página a
declarações de um jogador da equipa rival. Dois meses depois, enchia também ao
Domingo a sua primeira página com a derrota do outro dos grandes (eterno rival
do primeiro) por perder fora por 2-1, contra outras das equipas revelação do
mesmo ano. Para um observador isento nestas coisas do futebol, a derrota do
primeiro tinha sido de longe um escândalo muito maior do que a do segundo. Se
deixarmos o nosso cérebro absorver esta informação sem controlo das emoções,
estamos a dar muito menos importância à derrota mais pesada do que à outra, por
ventura menos dramática.
Esta manipulação é constante, mesmo naqueles órgãos de
informação que se intitulam imparciais e isentos de influências. O factor
humano está no jornalista que escreve a notícia, e ele não o consegue fazer sem
emoções, pelo que exprime sempre a sua opinião, mesmo que de forma encapuçada.
Estas influências, quase nunca percebidas por aqueles que
são influenciados inadvertidamente, não trariam grande mal ao mundo se não
pendessem todas para um mesmo lado, isto é, se não fossem tendenciosas em vez
de serem diversificadas e abrangessem todo o espectro possível de opinião.
Contudo, quando um determinado órgão de informação pende tendenciosamente para
um lado, seja ele político, religioso, sexista, clubista ou outras formas
facciosas de ver uma determinada realidade, então estamos todos, enquanto
sociedade, a correr um grande risco. O risco da desinformação e da influência
tendenciosa, que nos pode levar a assimilar certas informações erradas ou menos
verdadeiras como verdades absolutas.
Observe-se a televisão com um pouco mais de cuidado, e
pode-se constatar que, pela forma como os jornalistas fazem as suas perguntas,
as respostas são forçosamente aquelas que eles querem. Manipulam os
entrevistados e levam-nos a dizer o que mais lhes convêm. Deturpam a realidade,
mostrando apenas um dos lados da mesma, por ventura a que menos nos interessa
enquanto sociedade que necessita de estar bem informada.
Um director de um canal de televisão uma vez disse que,
se quisesse, podia fazer qualquer pessoa vir a ser Presidente da Republica.
Levou a sua afirmação ao extremo, mas esta deve ser entendida como algo que
efectivamente pode acontecer. O contrário, ou seja, mandar um governo abaixo é
também possível, e todos nós sabemos que há partidos que são mais acarinhados
pela comunicação social do que outros. Parece que temos de acreditar
forçosamente naquilo que nos querem impingir.
O quarto poder está bem vivo, e de uma forma ainda não
organizada, vai fazendo a sua campanha política, sem controlo de comissões de
eleições e sem limitação de tempo de antena. Nem mesmo o chavão de que “somos
informação pluralista e isenta” nos pode enganar, porque mesmo este tem como
objectivo fazer-nos crer que podemos acreditar piamente neles.
Um controlo inteligente das nossas emoções quando
aceitamos informação pode fazer com que sejamos menos manipulados. As emoções
descontroladas só nos ajudam a perder o controlo.
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