As trinta e cinco horas de formação obrigatórias, segundo o Código do Trabalho, que as empresas devem disponibilizar aos seus colaboradores, estão a ser completamente ignoradas por todos os agentes que poderiam ter interesse nesta matéria.
Os primeiros interessados deveriam ser os próprios indivíduos, trabalhadores por conta de outrem ou mesmo por conta própria, que ignoram o facto de que só com mais conhecimentos e competências poderão aumentar a sua produtividade e, consequentemente, aumentar a sua relevância nos ambientes em que se inserem. Ninguém é indispensável, mas há pessoas mais ou menos relevantes para as organizações. Essa relevância só se adquire se a pessoa em causa detiver um conjunto de conhecimentos e de competências próprias que lhe possam granjear uma posição relevante na estrutura organizacional a que pertence. De outra forma, vai perdendo essa relevância e directa importância na organização, podendo esta substitui-la facilmente ou até mesmo eliminar a sua função. Assim, compete aos indivíduos adquirirem competências que os tornem relevantes para a organização, na medida em que se tornam fontes de criação de valor, directo ou indirecto, do qual a organização depende fortemente.
Os segundos interessados deveriam ser as organizações, nomeadamente as empresas. Para estas a formação e aumento de competências das pessoas só poderá trazer um efeito para as mesmas: aumento de produtividade. Nem é preciso discutir e apresentar evidências desta verdade inquestionável. Contudo, as organizações, na sua maioria, esquecem esta realidade e ignoram a formação dos seus quadros. Razões existirão em quantidade suficiente para as desculpabilizar, mas não para as perdoar. Na verdade, as organizações deveriam apostar fortemente na formação dos seus quadros estratégicos, na maioria das vezes a começar pelo empreendedor e gestor de topo que criou a empresa. Infelizmente, sendo este o fulcro principal da empresa, na medida em que foi muitas vezes o único com a capacidade de assumir o risco inerente à criação do próprio negócio, é o que menos identifica a necessidade de apreender e adquirir novos conhecimentos e competências. Assim, e como consequência, muito menos identifica a necessidade que os seus quadros têm em adquirir novos conhecimentos e competências. Deveriam ser os gestores de topo os primeiros a dar o exemplo e a fomentar a formação, começando por eles próprios, de forma a incutir nas suas organizações um espírito de ambição por aquisição de conhecimentos e competências.
O terceiro intervenientes neste processo é o Estado. Quando o mercado não funciona, o Estado costuma suprir essa falha através de algum tipo de intervenção, e neste caso específico, com a legislação que obriga a trinta e cinco horas de formação por empregado, para todos os empregados da organização, incluindo gerentes e administradores. O que surpreende é que tendo o Estado nesta situação em que assumiu uma posição intervencionista na tentativa de eliminar uma determinada falha de mercado, não faça mais nada do que apenas emitir legislação. E o controlo e fiscalização? Para quem ficam?
Esta é a questão. Sem a vontade de nenhum dos principais intervenientes, a formação, ou a falta dela, é apenas um fantasma que paira sobre as nossas cabeças, sem aparente ameaça, mas que nos vai matando devagar, sem darmos por isso.
VALOR - o que é o valor?
Há 12 anos
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