quarta-feira, 4 de março de 2009

O REGRESSO DA ESCRAVIDÃO

No telejornal da SIC apresentou-se hoje (2008-03-04) uma peça que retractava o estado dos desempregados em Portugal.
Só vendo, porque nunca conseguirei transmitir o que senti depois deste documentário.
Ao ver a peça que apresentava um conjunto de pessoas que mal conseguem viver e que não conseguem encontrar trabalho, consegui imaginar a satisfação que estes factos podem dar a um conjunto de indivíduos que no conforto dos seus espaços estravagantemente decorados observaram o mesmo com um profundo sorriso, apesar das perdas que a crise financeira lhes acabou de infringir nos últimos tempos.
Continuo a questionar-me a mim próprio como é que as “pessoas” (de bem e inteligentes) não percebem o que se está a passar à nossa volta.
Voltamos ao tempo da escravatura.
Quando um licenciado tem de trabalhar por setecentos euros mensais, para não falar do salário dos menos qualificados, estamos na presença de uma desgraça anunciada.
O facto é que quem paga setecentos euros a um jovem licenciado no seu primeiro emprego está apenas a satisfazer a “fome” interminável que os “senhores do mundo” têm pelo trabalho de escravo. E nunca a situação foi tão propícia a que tal se venha a tornar no padrão geral.
A crise veio financeira, que ainda não bateu no fundo, que provocou a crise económica que já vivemos, não fez mais do que reduzir o “valor” que cada um de nós possuía uns tempos atrás.
Vejamos de forma simples. Para um trabalhador normal que pagava o empréstimo da sua casa, do seu carro, de alguns electrodomésticos e ainda chegava para educar um ou dois filhos, a crise veio acabar com todo esse sonho. Perdeu, ou há-de perder, tudo aquilo para que lutou e deu o seu suor. Mas para quem tinha biliões a crise não foi, aparentemente, menos simpática. Hoje vê a sua fortuna reduzida a menos de metade.
Aqui é que reside a questão. O pobre perdeu, ou há-de perder tudo. O extremamente rico perdeu metade, sendo que a metade que ainda retém é algo que o pobre nunca conseguiria pensar em vir a possuir. Mais, na comparação relativa, a diferença agora é muito maior, porque qualquer coisa comparada com “nada” é sempre muito mais favorável.
Isto quer dizer que os ricos ficaram mais ricos e os pobres, e a classe média, ficaram agora pura e simplesmente miseráveis.
Mas pior que tudo, o que possui o capital agora está em condição de discutir o “preço” do miserável.
Esta clarividência surgiu-me na minha primeira viagem à Índia. Alguém me disse que tinha sete empregados e que só num país como a Índia isto era possível. Para além do tremendo respeito que fiquei a ter pela riquíssima cultura que a Índia possui como a mais antiga civilização do mundo, fiquei também a compreender ao que o desenvolvimento da sociedade e “civilização” pode levar: à criação de “castas” humanas.
Será que ninguém ainda percebeu que isto é apenas uma manobra de diversão?!
Estão a tornar-nos em escravos.
O próximo passo é termos um Chip nas costas para que, alegadamente, estejamos protegidos dos bandidos, ou dos extra-terrestres, porque esta também poderá ser uma boa razão para aumentar o nosso grau de escravidão.

Felizes dos ignorantes…

domingo, 1 de março de 2009

Centro Comerciais vazios

Um artigo da Lusa que encontrei num fórum de uma rede social na internet, relata que existem em Portugal um enorme conjunto de Centros Comerciais, maiores ou mais pequenos, que estão parcial ou totalmente abandonados, sendo que a sua distribuição se verifica por todo o País.
O jornalista, que se limita a dar os factos, retrata a realidade de um sistema económico falhado, desde que Guterres entrou para o governo (nota: não estou a defender nenhum outro sistema, estou só a analisar o que se passou depois de 1995).
O nosso crescimento assentou acima de tudo e desde então no aumento do consumo interno. Esta política levou a que o nosso défice externo passasse de 11% do PIB de 1995 para mais de 90% do mesmo PIB em 2008.
Andámos a pedir emprestado lá fora para consumir cá dentro, comprando o que os outros produziram, isto é, pedimos-lhe dinheiro para lhe comprar bens.
O que fizemos cá dentro foi construir habitações e outras construções (como centros comerciais), que vendemos a preços especulativos e que agora valem muito menos do que seria de esperar.
Agora, esses Centros Comerciais estão vazios porque não existe compradores. Mas será que deixamos de ter dinheiro? Claramente, deixamos de depender do nosso próprio dinheiro. Quem produzia valor deixou de o fazer, sendo que os centros produtivos passaram e continuam a passar progressivamente para a China e Índia, sem que sejam substituídos por outros que produzam produtos de mais valor acrescentado, o que levou a que a criação de riqueza real diminuísse consideravelmente, passando-se a viver da riqueza criada de forma especulativa como produtos financeiros e imobiliário.
Agora, não produzimos suficiente valor que seja suficiente para comprar ao exterior o que precisamos para vivermos.
Qual é a solução? Apenas uma: deixarmos de consumir. Isto implica voltarmos a contar as “patacas”, a viver com muito menos condições e a reduzir a nossa qualidade de vida.
Preparemo-nos para o pior, que esse ainda não chegou.
Mas preparemo-nos acima de tudo para dar a luta. Ou voltamos a produzir e a criar valor ou desaparecemos, porque agora não temos nada onde nos agarrar, como o comércio com a Índia, o ouro do Brasil, os diamantes e outras receitas de África e os subsídios da U.E.
O tempo começa a ficar curto. O pior é que parece que os nossos governantes ainda não deram por isto.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O MUNDO VAI MAL

Como eu sei o que vai de mal pelo mundo.
Ninguém efectivamente sabe o que vai acontecer, e eu também não vejo nenhuma razão racional para que a coisa não fique ainda pior. Penso que iremos piorar ainda mais, dentro deste ano. O mundo todo vai piorar.
O melhor cenário possível é o de que iremos aguentar com o aumento de desemprego, mantendo a baixa inflação, ou mesmo deflação, com a desvalorização das moeda (sendo que parece que o euro se vai aguentando para bem dos nossos males) e com a redução das margens de lucro por subida da competição (muitos irão falir, o que leva ao desemprego).
Num cenário extremamente pessimista, a inflação será negativa (deflação), o consumo será reduzido por causa do comportamento dos consumidores que protelarão as suas decisões de compra, as empresas fecharão em barda, o desemprego será galopante, a miséria alastrará, a insegurança será generalizada, as moedas deixarão de ter valor, não por desvalorização (o que corresponderia a inflação, que não é o caso) mas sim por falta de crédito, os juros pedidos pelas entidades financeiras aumentará (apesar das taxas quase zero dos bancos centrais), o investimentos será quase nulo, a riqueza será acumulada não em moeda mas em bens e património (propriedades e metais), a instabilidade política aumentará, os conflitos regionais aumentarão devido a políticas proteccionistas, o mundo poderá até entrar em colapso e conflitos generalizados serão possíveis.
Ninguém sabe onde ficamos entre estes dois extremos (de lembrar que o menos mau nem chega a ser positivo).
Parece ainda claro que os governantes de todo o mundo também não sabem o que vai acontecer e o que poderão ou deverão fazer para contrariar os piores cenários.
Assim, par ao cidadão comum, fica a pergunta: o que devo fazer?
Aparentemente nada ou muito pouco.
Poupar para os piores tempos que ainda estão para vir, e assim agravamos a crise na medida em que estamos a reduzir o consumo.
Esperar por melhores tempos para investir, quando os preços estiverem ainda mais baixos, e também estaremos a contribuir para o agravamento da crise.
Com certeza o que não se adivinha como sensato é investir e aumentar o nosso consumo, mesmo que para isso tenhamos de recorrer ao crédito. Nem pensar, pensaremos muitos, pois foi isso que esteve na base da actual crise.
Falta esperar pelo Estado para fazer algo que anime a economia. Mas com o quê?
Se for com a receita dos impostos, estas irão com certeza diminuir, devido à redução na criação de valor acrescentado e de rendimentos pessoais, o que não poderá ser a base para suportar o investimento do Estado.
Se for por aumento da dívida pública, estamos a cair no mesmo erro que serviu como ignição à crise, e pior ainda quando dívida implica que exista um devedor e um credor. E quem vai ser o credor ou financiador do Estado? Os bancos centrais, através da emissão de moeda? E então o que é feito do controlo da inflação? Poderemos lembrar que essa não vai acontecer, podendo ser até mesmo negativa, devido à diminuição do consumo para valores extremamente baixos. Mas se assim for, então estaremos em posição de dizer que a moeda, apesar da deflação e aparente manutenção de valor (de câmbio), a mesma não tem aceitação no mercado, que perdeu completamente a confiança no sistema monetário (não seria a primeira vez que isso aconteceria na história da civilização).
Será que nos resta trocar bens e serviços?
Será que voltaremos ao sistema de troca de produtos e bens?
Parece que a resposta não é fácil, pelo menos para já.

sábado, 31 de janeiro de 2009

ESTOU FARTO, PORRA!

Eu bem andava a dizer que não via televisão, e antes me resumia a trabalhar para resolver a crise.
Vai daí, hoje vejo as notícias de SIC e vejo que um tipo aqui da terra onde resido (Samora Correia) que estando desempregado há uns anos atraz, decidiu criar uma associação que recolhia as tampas das garrafas de plástico e em troca comprava cadeiras de rodas para os deficientes no Ribatejo. O homem (HOMEM com letra grande) arranjou diretamente 19 toneladas e mais de 50 de outras organizações e movimentos, totalizando mais de 51 mil euros que serviram para comprar cadeiras de rodas e outros equipamentos ( a preços de tabela a dar montes de lucro aos fabricantes da industria de equipamentos que tem excelentes margens de lucro) e distribuir pelos pobres e necessitados que precisavam das ditas cadeiras, para as quais na minha casa eu e a minha mulher pagamos mais de mil euros por mês para a segurança social que era suposto ser ela a pagar esses equipamentos para deficientes, já que eu quando quero ir ao médico tenho de ir ao médico privado porque no centro de saúde morria três meses à espera de uma consulta (isto é um roubo aos meus impostos e ao meu dinheiro que o Estado me faz, me rouba, e sem vergonha usa para pagar aos funcionários do centro de saúde que estão lá para arranjar maneira de eu ir aos médicos privados e deixar de os chatear e a outros interesses na industria).Como já viram, pagamos impostos para um Estado Social que deveria utilizar o dinheiro para os mais necessitados e depois têm de ser as pessoas/cidadãos, desempregadas neste caso, que voluntariamente angariam meios e recursos para ajudar efectivamente os tais ditos necessitados.Mas isto é o menos.Então não é que o Ministério do Ambiente levantou coimas à dita associação que recolhia rolhas de plástico por as ter na propriedade de uma pessoa que a tinha disponibilizado gratuitamente para o efeito, porque não tinham licença para ter lá tais materiais?!
(agora em maiusculas):ENTÃO O TAL MINISTÉRIO DO AMBIENTE QUE EM UMA FRACÇÃO DIMINUTA DO TEMPO QUE ERA SUPOSTO NORMAL, DEU O LICENCIAMENTO AO FREEPORT, DE GRAÇA (E NÃO ESTOU A DIZER QUE FOI POR BRIBERIES), AGORA QUER ENTRE MIL E QUINHENTOS A TRÊS MIL EUROS DE MULTA POR CAUSA DA RECOLHA E ACUMULAÇÃO DE ROLHAS DE PLÁSTICO NO QUINTAL DE UMA PROPRIEDADE PRIVADA?
(continuo a escrever em maiusculas como sinal da minha indignação)ENTÃO, AQUELE CIDADÃO TRABALHOU SEM VENCIMENTO DURANTE TRÊS ANOS PARA UM PROJECTO COMUNITÁRIO, PARA DAR AOS NECESSITADOS O QUE O ESTADO (ESSE INDIGNO RECOLECTOR DOS NOSSOS IMPOSTOS) NUNCA FOI CAPAZ DE FAZER, PORQUE ANTES PREFERE DAR REFORMAS CHORUDAS ÁS ELITES QUE O CONTROLAM E À MAQUINA DE FUNCIONÁRIOS QUE O SUPORTAM, E AGORA TAMBÉM QUER UMA PARTE DA RECEITA QUE FOI OBTIDA PELA RECOLHA VOLUNTÁRIA DOS CIDADÃOS QUE RECOLHERAM E DOS QUE DERAM AS ROLHAS DE PLÁSTICO?
SENHORES, A ISTO EU CHAMO ROUBO!QUAIS LEIS QUE POSSAM EXISTIR E QUE FUNDAMENTAM AS COIMAS QUAL PORRA!
ISTO É UM ROUBO!ESTÃO A GOZAR COMIGO E COM OS DEMAIS QUE PAGAM IMPOSTOS, MAS MAIS IMPORTANTE, PRODUZEM VALOR ACRESCENTADO PARA O PAÍS!PORQUE ESSES SENHORES QUE PASSARAM A MULTA, E OS QUE FIZERAM A LEI, E OS QUE OS COMANDAM E OS QUE NOS GOVERNAM, NÃO PRODUZEM UM TOSTÃO FURADO DE VALOR ACRESCENTADO PARA A SOCIEDADE.
PARECE QUE ALGUÉM ANDA A BRINCAR COM OS CIDADÃOS
O PARADIGMA SOCIO-ECONOMICO ESTÁ ERRADO! SABEM O QUE ISTO QUER DIZER?
ESTOU FARTO, PORRA!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

AINDA A QUESTÃO DA FORMAÇÃO DE ACTIVOS EM PORTUGAL

As trinta e cinco horas de formação obrigatórias, segundo o Código do Trabalho, que as empresas devem disponibilizar aos seus colaboradores, estão a ser completamente ignoradas por todos os agentes que poderiam ter interesse nesta matéria.
Os primeiros interessados deveriam ser os próprios indivíduos, trabalhadores por conta de outrem ou mesmo por conta própria, que ignoram o facto de que só com mais conhecimentos e competências poderão aumentar a sua produtividade e, consequentemente, aumentar a sua relevância nos ambientes em que se inserem. Ninguém é indispensável, mas há pessoas mais ou menos relevantes para as organizações. Essa relevância só se adquire se a pessoa em causa detiver um conjunto de conhecimentos e de competências próprias que lhe possam granjear uma posição relevante na estrutura organizacional a que pertence. De outra forma, vai perdendo essa relevância e directa importância na organização, podendo esta substitui-la facilmente ou até mesmo eliminar a sua função. Assim, compete aos indivíduos adquirirem competências que os tornem relevantes para a organização, na medida em que se tornam fontes de criação de valor, directo ou indirecto, do qual a organização depende fortemente.
Os segundos interessados deveriam ser as organizações, nomeadamente as empresas. Para estas a formação e aumento de competências das pessoas só poderá trazer um efeito para as mesmas: aumento de produtividade. Nem é preciso discutir e apresentar evidências desta verdade inquestionável. Contudo, as organizações, na sua maioria, esquecem esta realidade e ignoram a formação dos seus quadros. Razões existirão em quantidade suficiente para as desculpabilizar, mas não para as perdoar. Na verdade, as organizações deveriam apostar fortemente na formação dos seus quadros estratégicos, na maioria das vezes a começar pelo empreendedor e gestor de topo que criou a empresa. Infelizmente, sendo este o fulcro principal da empresa, na medida em que foi muitas vezes o único com a capacidade de assumir o risco inerente à criação do próprio negócio, é o que menos identifica a necessidade de apreender e adquirir novos conhecimentos e competências. Assim, e como consequência, muito menos identifica a necessidade que os seus quadros têm em adquirir novos conhecimentos e competências. Deveriam ser os gestores de topo os primeiros a dar o exemplo e a fomentar a formação, começando por eles próprios, de forma a incutir nas suas organizações um espírito de ambição por aquisição de conhecimentos e competências.
O terceiro intervenientes neste processo é o Estado. Quando o mercado não funciona, o Estado costuma suprir essa falha através de algum tipo de intervenção, e neste caso específico, com a legislação que obriga a trinta e cinco horas de formação por empregado, para todos os empregados da organização, incluindo gerentes e administradores. O que surpreende é que tendo o Estado nesta situação em que assumiu uma posição intervencionista na tentativa de eliminar uma determinada falha de mercado, não faça mais nada do que apenas emitir legislação. E o controlo e fiscalização? Para quem ficam?
Esta é a questão. Sem a vontade de nenhum dos principais intervenientes, a formação, ou a falta dela, é apenas um fantasma que paira sobre as nossas cabeças, sem aparente ameaça, mas que nos vai matando devagar, sem darmos por isso.

sábado, 24 de janeiro de 2009

ONDE PODE FALHAR O POPH

Já era de esperar!
Com o actual programa do QREN e, consequentemente, do POPH, foi estabelecido que a prioridade maior em termos de formação profissional deveria incidir sobre a qualificação da população nacional, de forma a que nos pudéssemos aproximar da média de qualificações da U.E.
Assim, o grosso da coluna do financiamento comunitário, apoiado em menor parte pelo Orçamento de Estado Português, vai para a qualificação dos recursos humanos nacionais, no pressuposto que a obtenção do nível escolar correspondente ao 9º ou 12ºano de escolaridade nos irá dar mais competitividade a nível internacional.
Este propósito, de cariz essencialmente político, assenta no pressuposto de que a população activa terá melhor desempenho quanto maiores forem as suas competências. Todos entendemos que o aumento de competências humanas leva naturalmente a uma maior produtividade e eficiência. Contudo, um processo de qualificação pode não implicar necessariamente o aumento de competências.
Um diploma qualificante deveria, em princípio, significar a aquisição de uma determinada competência. Infelizmente, todos sabemos que não acontece assim, nem sendo necessário dar exemplos.
Isto para dizer que o facto de um determinado individuo possuir o certificado do 9º ou 12º ano de escolaridade tal não lhe confere nenhuma competência extra que lhe permita desempenhar melhor a sua actual ou nova actividade ou função.
Mas, mais importante ainda para os visados, a qualificação do 9º ou 12º ano de escolaridade não atribui a ninguém a melhoria automática dos seus actuais honorários.
Isto prenuncia que muito pouca gente estará interessada em adquirir qualificações que não tragam como retorno qualquer benefício monetário, por mais diminuto que seja o esforço envolvido para o efeito.
Desta forma, o programa POPH está com dificuldades em cumprir a taxa de execução a que se propôs.
Naturalmente que as pessoas, porque se trata de pessoas e não de objectos políticos, não estão na sua grande maioria interessadas em dispensar tempo da sua vida familiar e social para o dedicarem ao processo de aprendizagem, quando necessário, para a obtenção de uma qualificação mais elevada.
O operário agrícola ou industrial, de limpeza ou comércio, qualquer que seja a sua actividade profissional estará muito pouco predisposto a investir esforço próprio na sua formação profissional a não ser que a mesmo lhe venha a proporcionar algum tipo de melhoria para si próprio, especialmente de carácter retributivo.
Esta expectativa é natural e legítima.
O problema, não identificado a priori, é que muito pouca gente terá a predisposição para despender o seu tempo pessoal e familiar para adquirir qualificações que de nada lhe servem.
Apenas o objectivo político não é suficiente para mobilizar os cidadãos a embarcar numa campanha nacional que tenha como finalidade quase única a melhoria das estatísticas nacionais.
O país continua na mesma. As pessoas continuam sem competências, mesmo que tenham novas qualificações. A produtividade não melhorou, apesar do investimento feito e ainda a fazer. A competitividade nacional não se alterou, apesar da pretensa melhoria.
Está para provar o impacto que o investimento terá na economia real!
Talvez se venha a demonstrar que os pobres estarão ainda mais pobres no final deste processo.

sábado, 3 de janeiro de 2009

PORQUE RAZÃO O PEQUENO COMÉRCIO NÃO TEM FUTURO?

Na sua recente comunicação de Ano Novo, o Presidente da República aludiu ao perigo de extinção que os agricultores e os pequenos comerciantes correm neste ambiente conturbado de uma crise mundial que não tem fim à vista.
Foquemo-nos no caso dos pequenos comerciantes, o comércio tradicional.
Será que existem condições para que o pequeno comércio resista à evolução da economia capitalista?
Olhemos para o assunto sob o aspecto do estudo económico do valor criado por qualquer actividade.
Quando se produz um bem a partir de uma qualquer matéria-prima está-se a criar valor. Da mesma forma quando se semeia uma semente e se colhe o seu fruto, está-se também a criar valor. Ainda quando se realiza um serviço que resolva um qualquer problema ou traga bem-estar a alguém, está-se a criar valor.
E que valor é esse?
Esse valor é o que qualquer um de nós está disposto a pagar pela “coisa”, para a possuir sem que a tenhamos de produzi nós próprios. Se conseguimos produzir algo por um custo, expresso em tempo, materiais e conhecimento, que é inferior ao que alguém nos pede, ainda que expresso em dinheiro, naturalmente que não estamos dispostos a comprá-lo.
Enquanto os bens foram produzidos por artesãos que detinham conhecimento específico, difícil de adquirir, ou por agricultores que possuíam as terras e as sementes que lhes permitia produzir os bens agrícolas e animais, o estabelecimento do preço incluía uma grande parte de lucro, isto é, de valor para além do pagamento necessário para cobrir os recursos utilizados, como tempo, matérias e conhecimento.
Da mesma forma, quem comprava e transportava os bens para locais afastados do seu local de produção, para os poder comercializar, aplicava uma margem de lucro que ia para além do custo real dos recursos utilizados, como tempo, meios de transporte e de comercialização.
O lucro dependia da maior ou menor dificuldade que os compradores tinham para produzir e transportar eles próprios os bens adquiridos. As margens de comercialização (mark-up) chegavam a ser várias vezes o custo real de produção ou de aquisição, conforme a dificuldade em produzir ou adquirir o bem era maior ou menor.
Com a revolução industrial este paradigma alterou-se.
A possibilidade de produzir bens de consumo com muito menos recursos, ou seja, tempo, materiais e conhecimento utilizados, reduziu consideravelmente o preço de venda dos mesmos bens aos consumidores, o que por seu lado aumentou consideravelmente a possibilidade de aquisição dos bens por uma muito maior parte da população, que veio por sua vez possibilitar uma maior eficiência na sua produção e consequente redução de custo para o fazer.
Contudo, o sistema de distribuição continuou por muito tempo idêntico ao anterior à revolução industrial, com base na distribuição por via do pequeno retalho, de âmbito local e restrito a um pequeno número de consumidores. A falta de mobilidade foi a principal causa da tardia mudança de paradigma na distribuição de bens em grande escala, que durou até à segunda metade do século XX nos países ocidentais.
A facilidade de mobilidade dos consumidores contribui para o sucesso das grandes superfícies comerciais, que possibilitou uma muito maior procura e consequente volume de vendas, permitindo a diminuição da margem de lucro por produto mas um maior lucro por força dos grandes volumes de vendas. O surgimento de grandes cadeias, que repetem a sua localização por diferentes localizações, veio ainda possibilitar o incremento dos volumes de venda e consequente diminuição do preço dos bens.
Foi este movimento que criou a “democratização” de muitos produtos, possibilitando que franjas de consumidores com menos poder de compra passassem a poder adquiri-los.
Com excepção dos artigos de luxo ou alguns de carácter artesanal ou de alguma outra exclusividade, que são destinados a nichos de mercado muito específicos e de dimensões muito reduzidas, o pequeno comércio que não responda a uma necessidade de proximidade dos consumidores não tem possibilidade de sobreviver. Os consumidores simplesmente não o aceitam, porque tem uma alternativa que lhe exige despender menos recursos, ou seja, tempo, dinheiro e facilidade de aquisição.
Tentar contrariar esta realidade é como desafiar as leis da gravidade, para a qual ainda não temos resposta.